terça-feira, 24 de janeiro de 2017

poema antes de lavar a louça

saudade dos tempos que nem sabia que levaria na conta
sabe daquele café despretensioso?
das atenções recebidas e ignoradas?
saudade dos risos daqueles que eu amei
de todos eles, sem exceção
até das brigas sinto a ausência desregrada
mesmo com os braços roxos e joelhos ralados
se os poetas vivessem de lembrar 
e se pudessem voltar atrás, viveriam mais
mas o tempo é traiçoeiro, e mata-os a sangue frio
e tudo o que resta é a saudade em forma de letra
saudade dos tempos esquecidos
das amantes, dos beijos aquecidos, das mãos pelo corpo
da língua espiralada e dos suspiros pecaminosos
em lugares e luares proibidos
saudade das estrelas em forma de nada
das noites com céu rosa
saudade
saudade
saudade
vai embora pelo ralo
é pedaço de fotografia que congela o tempo
é combustível de verso
é tristeza cantada
saudade
bate

forte
cabe a nós
sobreviver.

 

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