sábado, 20 de agosto de 2016

Retratos da chuva

   O barulho avisa a todos, é chuva. Chuva limpa as calçadas, limpa as janelas, limpa os esgotos, a alma. Acordo com ele, despertador mais lindo não existe, a não ser quando são teus olhos que me despertam. Permaneço deitado, não tenho seus olhos, tenho dor. O ar frio que a chuva carrega consigo penetra o quarto vazio, eu sou um ponto na imensidão daquela escuridão.
  O celular vibra, uma mensagem, não é você, ignoro. Vibra de novo, não é você, ignoro. Permaneço alguns instantes de minutos esperando você. Mas você é como a chuva. Barulha, venta, mas vai embora, como tempestade. 
  É tão melancólico tudo isso, toda essa dor, toda essa fumaça de cigarro, isso porque nem fumo, todo este álcool que nunca bebi, toda essa poesia que nunca escrevi. A chuva lembra que a mímica dos corpos é não dizer, apenas sentir, ah, mas os corpos não sabem sentir, por isso não falam, não gritam. Fazem barulhos incompreensíveis.
   Levanto com dificuldade, rabisco na alma seu sorriso, coloco sua alma na minha estante. Sento no sofá observo todo o ambiente. Seu retrato não está mais sendo meu sol nos dias chuvosos.

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