quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Ventofonia

A lembrança daquele dia frio permeia meus sentidos
Foi de canto, para abafar o canto do coração
olhos arregalados, vergonha dos lábios
alma dormente, naquele dia, era preciso dizer
quer os versos não mentem

embrenhei nos meandros do medo
que ficava nas faces. Sorri. Sorriu.
Abraço daqueles que vira abrigo para nossas quimeras

o vento soprou num semitom 
não sei se de propósito ou foi para abafar 
a sinfonia dos batimentos

tudo se resolveu, ou quase
o beijo tímido dissolveu nossa lucidez
agora nos resta querer
o vento quer, o universo quer
meus poemas querem, meu verbo também
e você, bate a lembrança na porta
quer também?




sábado, 20 de agosto de 2016

Retratos da chuva

   O barulho avisa a todos, é chuva. Chuva limpa as calçadas, limpa as janelas, limpa os esgotos, a alma. Acordo com ele, despertador mais lindo não existe, a não ser quando são teus olhos que me despertam. Permaneço deitado, não tenho seus olhos, tenho dor. O ar frio que a chuva carrega consigo penetra o quarto vazio, eu sou um ponto na imensidão daquela escuridão.
  O celular vibra, uma mensagem, não é você, ignoro. Vibra de novo, não é você, ignoro. Permaneço alguns instantes de minutos esperando você. Mas você é como a chuva. Barulha, venta, mas vai embora, como tempestade. 
  É tão melancólico tudo isso, toda essa dor, toda essa fumaça de cigarro, isso porque nem fumo, todo este álcool que nunca bebi, toda essa poesia que nunca escrevi. A chuva lembra que a mímica dos corpos é não dizer, apenas sentir, ah, mas os corpos não sabem sentir, por isso não falam, não gritam. Fazem barulhos incompreensíveis.
   Levanto com dificuldade, rabisco na alma seu sorriso, coloco sua alma na minha estante. Sento no sofá observo todo o ambiente. Seu retrato não está mais sendo meu sol nos dias chuvosos.

domingo, 14 de agosto de 2016

Linhas avessas

  De repente veio a chuva, a água, os animais, veio os humanos, os pássaros, a terra. Depois as árvores floresceram. Surgiram então os sentimentos, o canto, o ar, o amor, a tristeza, a dor, a morte. De repente tudo acaba, toda vez, finda em um talvez que não cabe mais.
 Estou lá, usando o caos como meu norte, meu cais já não existe porque perdi tudo aquilo que se pode chamar de esperança. Pode parecer muito, mas também bem pouco, quando se leva o mundo nas costas se percebe tão pouco, a dor é insuportável ao ponto de nossa alma esvair e não ter forças para recompor-se.
 São línguas e línguas que falam, vozes que se alastram no vácuo do infinito. Reflito e percebo o quão ínfimo sou. O quão teria que ser. Tenho vontade de ser tudo a todo momento, e ímpeto de mudar tudo aquilo que vejo, não consigo, pois o que preciso não tenho, a chave do infinito.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Frio

O frio vem
e a gente se acostuma
as luzes da ribalta
e a névoa melancólica
trás a tona os erros que cometemos
chega um ponto que o frio não incomoda
mas faz parte da gente
torna-se nosso calor

Ventania...

Queria.
Seria.
Veria.
estudaria.
lavaria.
Estaria.
Ventania
sobre mim.
Aí virei do avesso.
Quero.
Sou.
Vejo.
Estudo.
lavo.
Estou!

sábado, 6 de agosto de 2016

Raizes

Olhem as raízes, perfuraram os asfaltos
o coração dos homens.
Olhem as raízes aquelas feitas de afeto, 
de consideração, de carinho.
Olhem as raízes e perceba a flor.

Onde está a empatia? de querer ajudar 
ou melhor de querer sentir o que outro sente
de amar pelo amar, da arte pela vida?

Onde está tudo? 
Olhem as raízes e tentem descobrir a resposta
Vão fundo, entrem em si mesmo, 
morem dentro de você
Só não deixem, abandonem, desafetem, descaminhem

Floresçam.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Abraços

O abraço perpetua tudo
que sentimos em silêncio
ele grita os sentimentos
afaga os batimentos

O abraço aquece, não só o corpo
e não é feito só de braços
tudo se entrelaça, os corações, os olhares
o corpo, até a alma

O abraço perpetua nossas estrelas
que já não tem mais luz
o abraço é abrigo