sexta-feira, 26 de maio de 2017

sem nome, mas no jardim


Eu preciso de um amor 
Um amor que me ame 
E ame o amor que eu tenho 

Não preciso de um amor de mensagens 
de ligações 
De formidáveis presentes 
Preciso de um amor presente 
Pode não ser todos os dias 
Nem todas as horas 
Mas um amor da qual 
O pensamento fique 
E quando há encontro 
Os beijos se traduzem 

Não preciso de um amor 
que venha de roma, 
Que brote do nada, 
Nem daqueles romances mirabolantes
Preciso de um amor que goste de ficar
Que brote poesia 
Que saia do chão 
E viva comigo todos os universos 
E escreva versos de vento 
Que faz eu perder o centro

Preciso, porque falta em mim 
Aquilo que eu transbordo 
Ausência.
Posso ser feliz comigo,
E sou, posso sorrir por aí sozinho 
E sorrio 
Só que sem a quem ter motivo
Do riso e da felicidade 
Sinto perdido em mim 

Preciso de um amor saudoso de mim mesmo 
Porque assim, posso ser completo em nós
Preciso ser dois 
Pois minha alma suplica
Por versos únicos.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Purê

Ela não descascou as batatas
mas colocou na panela
encheu até a metade de água,
esqueceu do sal
acendeu o fogo e esperou.

Ele, ligou a TV num dia de feriado
sentou no seu colchonete
que imitava um sofá e perdeu-se por uns minutos,
lembrou, foi lavar a louça.

Ela olhou atentamente a janela
as nuvens tinham movido-se pouco
calmamente viu a silhueta
calmamente lavando a louça
e calmamente houve um breve sorriso

Ele terminou a louça,
E chegou perto dela 
Trocaram olhares 
A panela apitou 
Estavam prontas as batatas 

Amassaram as batatas 
Colocaram manteiga 
Ovos, sal, fogo 
Ela mexeu a panela 
Ele observava 
Purê, pronto. 

Ela sorriu para ele 
Ele sorriu para ela 
Se abraçaram ali mesmo 
Era o instante da fuga 
E os dois brindaram 
O momento 
Na eternidade 
De um beijo 

O purê estava delicioso


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Poematráfico





sou traficante de poesia
e usuário de verso
cada linha que escrevo
é um novo universo

é respiração ação
resistência, diante de um mundo
que dilui em palavras
ódio, desamor, desistência

a cada tragada da pedra do caminho
tenho convulsões líricas machadianas
olho oblíquo, caneta irônica
bilhetes mnemônicos de Garcia

carne podre, e não é de demônios que falo
sim, de palavras pútridas dos Anjos
transcende a glória da luta, versos de Buarque
e procuramos verbete a verbete
significados no Holanda

injeto em mim verbo, meu olho fica vermelho de amor
proibido, vendido, lolita, Basílio,
Vicente, tanto Gogh como o Gil
metamorfoseio incongruências dentro de mim

sou caleidoscópio e maldição
honra, estupidez
acredito na poesia,
pois ela transforma
em ricas palavras
a miséria

é esperança, e remédio
é dor, felicidade, é espanto
poesia é versificar a vida
sem significação
é simplicidade de Quintana
dançando no meio da praça
com seu Sapato Florido

cheirei formas de linguagem
e corri com
vvvvvvvvvv
vvvvvvvvve
vvvvvvvvel
vvvvvvvelo
vvvvvveloc
vvvvveloci
vvvvelocid
vvvelocida
vvelocidad
velocidade
até não me alcançar mais

trafico, uso, retrafico, reuso
o verso, a polissemia,
a tuberculose, a doença
a taquicardia
uso a poesia como substância ilegal
para sair desse mundo de distopia


domingo, 14 de maio de 2017

antes de observar que o tempo diluiu escrevi estes versos


http://www.democrart.com.br/aboutart/wp-content/uploads/2015/03/Democrart_Salvador_Dali_Obra6.jpg


acordei, não abri os olhos.
passou uns minutos, abri os olhos.
olhos fecharam, abri o corpo.
corpo fechou, aí levantei.

lavei o rosto com os olhos fechados, o corpo aberto
e a mente toda inerte
fui a cozinha preparar café.

fervi alma, coei corações
e sorvi desgosto.

aí, já estava de olhos abertos, de corpo fechado
e a mente fluida.

percebi que não tinha aberto as janelas 
era escuro, espelho dos meus inversos
escancarei as janelas e entrou luz
e olhei o horizonte todo líquido,
colorido, e cheirando a merda.

fechei a janela, parei minha mente,
encostei o corpo, sorri. 

existia uma flor na beirada da pia
e ela não estava lá, existia
e agora, no plano da consciência não existe

só me restava sentar. sentei.
lembrei, ou tentei
puxar das linhas da ausência
o amor.

por fim, percebi, o tempo diluir
tudo o que é sólido
e perdi, o que mais me mantinha vivo
amar.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

roma

Ah! o mar, eu nunca o vi
já amar, molhei meus pés
e quase afoguei

são gotas, pingando,
café com leite
e pão na chapa
no meio da avenida paulista

parado, movimentado
como os segundos
correm, eu saio, luto
não quero amar

só que ele é como Roma
grandioso, o amor 
tenho que lutar no grande coliseu
e sempre, perco

como amar sem resposta?
não se sabe ainda,
apenas se ama
sem aposta

 

 

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Teologia da Improsperidade

Êxtase, clamor, mãos levantadas
gritos, o anjo está torto!
Passará Deus nas maquininhas?

Doem os corações
Tirem a bênção do bolso irmão 

Pode ser no boleto
a vista ou parcelado
mesmo que você não tenha
arranje, sacrifique
Ele está esperando

- Volte a pé para casa!
- Ele quer seu carro, você não tem fé?
- É miserável porque não ajuda na obra

- VAI! 
Dê e as demais coisas serão acrescentadas - disseram
Resultado? A gente já sabe
Pessoas delirando no vazio,
miseráveis de espírito e sem Deus

Ele não tem boleto, cor, amuleto
não quer dinheiro, casa, carro
não quer templos grandiosos
gritos miraculosos
espetáculos luminosos

O que Ele quer é coração, oração
confiança, certeza, inspiração
Ele não está guardado em paredes, eventos, cartazes
Ele está nos necessitados, na natureza,
nos inválidos, nos que são desgarrados

Está na música e não em código de barras
está nos poemas e não em revistas 
que o vendem como produto de primeira linha

Rendem-se a sua simplicidade
sinta ele no vento
no sorriso das pessoas
independente de cor, sexo, raça, religião

Apregoemos o amor dele ao mundo
gritemos e ajudemos os que necessitam
sem olhar a quem, sem excluir ninguém
sem vender ninguém

Apenas tirem os acentos do AMÉM

AMEM.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

atividade da criatura

Criatividade 
Atividade 
Da criatura 
Atura 
Atira 
Cria e atura 
Ata a doença 
A chaga 
Toma chá 
Com a tia 
Árida, seca 
De Áries?
 Talvez, quiçá 
Cabeça, crânio 
Plaqueta 
Estancou? 
Morreu? 
Não sei se viveu 
José, e agora ?
Poesia ou escola ?
- Poesia
Esclareceu ele 
Em tom de deboche 
Mas quem liga
Hj ta tudo muito caro
É caro, até escrever hoje 
Se economiza nas palavra 
Conversa 
Vira cvs, que se rearranjar 
Vira vcs 
Que doido não 
Essa atividade 
Da criatura
De criar

sábado, 6 de maio de 2017

girassol

Apaixonei-me pelos seus girassóis 
e encarno em outro corpo meus desejos
e eu não sou seu sol
embora queria ter sido

a dor de ver você indo embora pouco a pouco
é pouco para mim, que guardo no retrato
de um instante congelado, momentos de nossa sincronia

o incenso dá voz para o corpo, só não há corpo
nem incenso, apenas corpo e voz
do meu e do seu, que torna e entorna numa taça em nós

ata e desata, maltrata a alma, que espera 
e o relógio conta as horas, e ora, nem chega
a nenhuma ideia de amor

amar e amar, sem desandar a massa de nosso coração
é complicado e diversificado tanto
que só de ver versificando o mundo 
fico na dúvida se quero ser amado

sou apaixonado pelo seus girassóis
risos, fonéticas, enfim, todas as suas idiossincrasias
só que no fim, vai ser aquela coisa
cheguei, fiquei e parti

perdi seus girassóis

o furacão e a borboleta

Não sei quantas vidas me sobram 
e quanta metafísica há em mim
se é que existo ainda, 
se não sou um pedaço de vento

é clichê, clichê, e clichê
falar de tudo e de nada, de poesia, de ritmo
o coração bate e dessaruma a alma
floresce e cresce e por fim sempre morre
e morre
morre

ficamos a ver os navios, porém, o oceano secou
e a vida transformou em luz e a luz em estrelas
e as estrelas em galáxias transcendentes que fazem brotar
dimensões para uma subrealidade

não quero estar lá, 
e estou
não quero ser
e estou sendo
a realidade está de mãos dadas
e eu, de metáforas, e linhas
paralelas e planas não encontram-se no espaço
e desencontram-se no horizonte

é tudo um caos dentro de mim
e não reside paz, 
só que é de caos feita a vida
e de ordem é dada a morte

o mundo é borboleta
e eu o furacão
que não sabe para onde ir