sábado, 30 de abril de 2016

Perda

Acostumar a perder
não é fácil
lágrima rola, coração rola,
você permanece entorpecido
livro aberto, livro fechado
tempestade
não vai acabar até se acostumar
a perder, a ter o barco virado,
a ser sem as coisas

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O que é amor?

     O que é vida? O que é amor? Porque essas duas palavras, essas indagações não possuem respostas? Porque elas são de todo modo reperguntadas e nunca definidas? Porque elas são? Porque existem? Tais perguntas vocês não verão numa noite no Globo Repórter, muito menos numa coluna de jornal, essas perguntas das quais a definição pressupõe um vácuo eterno, serão respondidas sempre, mas sempre, mas sempre, com a ressalva de não se saber.
  Porque fazer tais perguntas? Porque o frio é bom, o frio nos aproxima da morte e da vida ao mesmo tempo. Andar no frio é como estar numa geladeira natural, seu corpo se enrijece, seus olhos ficam nevados, entretanto ao chegar em casa vocês, sim, vocês que estão lendo, revivem como fênix no chuveiro que expele uma água em filete, na qual a temperatura de tão alta é medida em Kelvin e passa do suportável, desse banho nós nos aproximamos da vida.         
    Mas onde está o amor? Ele se foi pelo ralo, mudou-se, não quis voltar, congelou porque seu pensamento se restringia ao ato de se esquentar e não de amar, porém, o que é amar? Isso é conversa para outro documentário de tv e não para essas palavras, você quer amor, seja amor da forma como acredita, se quer saber o que é vida, sê vida da forma que você acredita. Mesmo sendo uma resposta até que óbvia, a pergunta nunca acaba, mas o que é acreditar?

Eduardo M

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ovelhas

Impediu
Apitou
Só que o cartão vermelho lembrou
Quem apontou é corrupto também
Mas o que importa?
A lei está nas mãos de quem dá as cartas
E quem deu o cartão
Não terá só uma cor rubra no papel
Mas o carmesim do sangue
De quem deu a vida
a favor das ovelhas.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Inconsistência

   Inconsistente o mundo é, já reparou para ver? Nem toda a metafísica consegue explicar essa inconsistência, a vida é apenas um borrão na dita essência da existência. Consistência só se for em massa de bolo. Olhe pela janela, observe o vidro, observe a inconsistência das pessoas, uma hora ri, doutra chora e na outra quer salvar as baleias. As baleias precisam realmente de salvação, elas são consistentes, tem peso, tem objetivo, só não podem morrer, elas são as guardiãs da consistência.
     A ciência é outra essência da inconsistência, não sabe se café faz bem ou mal, não sabe se dormir em excesso é bom - puf! mas óbvio que é, cientistas mal amados - tão inconsistentes que dá vontade de gritar: Chega! Vai tomar seu café, vai ler um livro, vai comer um chocolate e chega de inconsistência!
     A inconsistência é fato, mas poderia ser flato, não posso declarar fim a ela, pois a inconsistência está neste texto, está no pensamento, está no amor, se não formos inconsistentes, não somos humanos.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Tristeza e paradoxo

A alegria é um vazio de alma
a tristeza recheio da alma

a tristeza corrói os rostos
corrói a face, como preconceito

a alegria permanece, quem alegre é
alienado também é,
quem muito sorri, pouco sabe da realidade

pensar na metafísica de não fazer nada
na potencialidade de ser
não alegra-nos, mas somente assim
chegamos na essência do ser

se faça triste e seja alegre
seja alegre para se ver triste.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Inconsciência

Procurou e não encontrou
O corpo doído, a alma doída
a garganta doendo

o despertar de agora é 
do sonho de inconsciência
é retrato de gestos de impaciência

quis esquecer de tudo e bebeu
como um condenado no inferno
bebeu e bebeu, agiu, orgiu, viveu
inconscientemente

pois é considerável hoje a inconsciência
para viver a realidade
mas de louca já basta a realidade
até que ponto usamos nossa consciência como realidade
e nossa realidade como sonho? 

domingo, 10 de abril de 2016

Remelas

   Acordei. Estava minha alma toda dormida ainda, cheia de remelas, cheia de preguiça. O corpo acordou. O espírito não. Sei que esse cansaço almático é devido as andanças do meu espírito, foi até a China, depois brincou com alguns animais da floresta e até fez uma fogueira para esquentar-se, daí, percebeu-se que devia voltar.
   Segundo Hesse, esse espírito é lobo, segundo eu, esse espírito é aventureiro. Todos querem sangue, todos querem gritar, como um lobo aprisionado, repete Hesse, mas eu repito, que o grito, que o sangue faz parte da aventura.
    A comédia faz parte da humanidade, mas o sorriso é divino, figura entre todas as coisas. Versejar é cantar a vida com alegria. Permiti ao meu corpo deitar mais um pouco. Era dia de fazer nada. Era domingo. Temos a nomenclatura de dias úteis, então que façamos inúteis os dias ditos corridos. 
     Então levantei-me, sacudi-me, tenta retirar aquela dor nas costas causada por um colchão de fina espuma e que por causa do meu peso afundara e passar muito tempo na cama era como deitar as costas num pedaço de pau. Triste, mas finalizada a dor, segui com os costumes desnecessários que nós, seres humanos sempre fazemos.
    Não é angustiante isso? Esse refazer de coisas? Essa repetição? Victor Hugo que o diga, ao escrever seu condenado numa antessala da libertação, a prisão é monótona, mas não somente a prisão física, de corpo, de concreto, mas a prisão da rotina. Não saia por aí fazendo coisas desnecessárias, sai por aí significando os dias.
    Certo, mas como faze-las significar? Simples, observe ao seu redor. Aquele dia, um dia tão comum mudou, quando vi que o sol era a luz das folhas e as folhas minha proteção:

  
    Deleite-me por um tempo perante a imagem, realmente te convido a entrar na foto, perceba as folhas, perceba o ar que estava naquela manhã, o sol como eu, estava permitindo-se acordar lentamente, primeiro brilhou, depois veio os primeiros raios para no fim - não que isso importe agora - mas para que no fim do dia, secasse todas as roupas dos varais e fizesse suar todas as pessoas e claro, ser xingado por realizar isso. O sol é incompreendido.
       Mas, me deparei com outra imagem e percebi que a natureza é completamente complexa, vi troncos, vi o quão fundo poderiam ir, e o quão raso eu poderia ser. As raízes vão fundo, como as artérias de nosso coração, as raízes bombeiam verdades para dentro e fora dos troncos, um coletivo de troncos é um coletivo de verdades que não se pode ir contra, a natureza é totalmente dogmática. Nunca veremos em um livro, em palavras essa enorme variedade de significações naturais.
      
Queria ser livre, então me permiti acordar tarde, a natureza se permitiu e criou nós. Seja livre, mas deixe que a natureza te liberte também.

sábado, 9 de abril de 2016

Táculos

     Obstáculos.  Sim, ela tem tentáculos, pega você aqui, pega você ali, te puxa para fora e não te deixa sair. Tentáculos. Sim, há obstáculos, mais do que isso, quem tenta, tenta se livrar de toda prisão, tenta se livrar de todo cálculo que te acomete.
    Quando se quer, você não pode ter, maldito ditado que diz que não podemos ter tudo o que queremos. Sofrer não é escolha como dizem por aí. Sofrer é se impor perante ele, aceitar sua carga, suas consciências, sofrer é pressupostamente uma escolha subjetiva da mente e não mecanicamente. Escrever é sofrer. Andar é singrar as ruas.
     Obstáculos são vários, tentáculos puxando para o abismo pior ainda, cada táculo é um tipo de sofrer que aceitamos e seguimos em frente. O obstáculo da cor, da classe, do cabelo crespo, da barba, de ser gay, o obstáculo de ser comunista, capitalista, de se cantar rap, samba, o obstáculo de ser. Nenhum desses táculos podem vencer-nos. Pressupostamente, cada sofrer mental, cria em nós um resistência vital. Não cederemos, venceremos, e traremos a mensagem de que somos todos iguais.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Unir-se

Unir.
Palavra de ordem, palavra de sedição, palavra interesseira, unir até que seus propósitos sejam alcançados. Para que continuar unido depois que tudo for resolvido?
União faz a força, faz açúcar, mas a união antes de tudo faz cumprir os interesses. Desde que esses interesses não sejam egoístas, nada contra a união. Mas a União é corrupta. Sempre se separa. Se você já pensou que sempre os movimentos não permanecem unidos, porque você entendeu que, o interesse é que ficou unido.
Já imaginou como seria genial seocunhaeotemernãoestivessemunidosporinteressesenemfosseminvestigadosdecasosdecorrupção provavelmente essa frase não seria grudada assim, sabe porque? Para você entender. Mas se você entendesse, você não ficaria unido a eles. Ficaria unido a outros interesses.
E assim, toda a cadeia social se constrói. A união é linda, auspiciosa, a União também é doce, todavia a União é corruptora de boas práticas. 
Humanos, nunca deixem de se unir, só não transformem em união um estudo de caso com o título: Como chegar ao meu interesse?  

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Fatos e fotos

Perdi as fotos e perdi os fatos, perdi as linhas e perdi também tudo aquilo que traz plenitude. Viver separado é viver morrendo, mas separado do que? Separado de tudo aquilo que é considerado vida. Amor, diário, comida, sensação de não ser desespero.
Porque quero escrever refrigério? Porque minha alma não cabe em um copo de inconsciência coletiva, viver morrendo é a sensação de ser lobo de estepe, estar trancado dentro de si mesmo é estar trancado dentro da caverna. Ah, se Platão soubesse que não é tão fácil assim quebrar as correntes e ver as sombras de realidade, ele não escreveria o mito da caverna, mas sim o Mito do Comodismo das Algemas.
As palavras, elas são profundas, são figuras da oralidade, já pensou que tudo o que se lê e até mesmo essas orações podem ser desenhos de uma criança de um outro universo?
Como perdi os fatos, também perdi a história, a história dos gritos, das coisas relevantes. As palavras destroem verdades incontestáveis.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Diálogo

Alô. Alô 
Alô, Zé Seu
Ei, aprendi que para falar preciso de travessão, para perguntar preciso de guarda chuva. Entendeu?
Ah, não compreendi, sabia que Seu Zé morreu, na esquina da facul?
Quem disse isso?  
Foi Tinhoso, o menino da D. Amália
Ah fio, minhas tristezas
Como tá Zé Seu?
Bem, mas fio, por onde aprende essas palavra de facul?
A gente aprende com o povo que vem comprar crédito. 
Que crédito? Tu virou agiota?
É crédito de celular, oxente  
Tendi fio.
Mas Zé Seu para que tu falou de travessão e guarda chuva, não entendi nada.
O meu fio, aprendi lá na escola, com a fessora, disse bonitin para a gente
Tendi, Zé Seu, preciso ir
Não esquece do ponto final, adeus fio.
Pi pi pi pi

domingo, 3 de abril de 2016

É

É.
Tentava procurar nas folhas digitais uma nova história, não consegui, então decidi escrever essas linhas.
É
O coração está apertado porque já não consegue ver mais saída, tudo muito escuro, tudo muito sombrio.
É 
Distância destrói laços
É.

sábado, 2 de abril de 2016

Kafkas

Quando Kafka não era Kafka, todo seu espírito era barata, toda noite escondida. Falaremos de tudo o quanto for desnecessário. Desnecessário é a verdade em forma verde. Porque não vermelho? Porque a Natureza é verde assim como Kafka.