terça-feira, 24 de janeiro de 2017

poema antes de lavar a louça

saudade dos tempos que nem sabia que levaria na conta
sabe daquele café despretensioso?
das atenções recebidas e ignoradas?
saudade dos risos daqueles que eu amei
de todos eles, sem exceção
até das brigas sinto a ausência desregrada
mesmo com os braços roxos e joelhos ralados
se os poetas vivessem de lembrar 
e se pudessem voltar atrás, viveriam mais
mas o tempo é traiçoeiro, e mata-os a sangue frio
e tudo o que resta é a saudade em forma de letra
saudade dos tempos esquecidos
das amantes, dos beijos aquecidos, das mãos pelo corpo
da língua espiralada e dos suspiros pecaminosos
em lugares e luares proibidos
saudade das estrelas em forma de nada
das noites com céu rosa
saudade
saudade
saudade
vai embora pelo ralo
é pedaço de fotografia que congela o tempo
é combustível de verso
é tristeza cantada
saudade
bate

forte
cabe a nós
sobreviver.

 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Hipocrisia da crise

Pensei que poderia imaginar um amor transcendente,
sem fins lucrativos, 
mas preferem investir ativos
e se desinteressar por aqueles que
pela sociedade são taxados passivos

um fim, 
e depois como se acendessem uma brasa
a conversa tem outro sentido, 
tu até pega um dicionário Aurélio e tenta entender
só que o que não falam para você dói muito mais 
do que as aparências que você acreditava

hipocrisia mata, não fique acusado
quem não foi hipócrita uma vez na vida,
por favor se mata. 
Decida: hipocrisia ou ser verdadeiro com aquele que tinha 
como único objetivo de vida, seu sorriso?

ter amizades é tomar cuidado, observa o contexto
antes de desenrolar os textos, senão, teu caráter
não tem nexo, e o que você achava que era seu eu
na verdade era o simulacro de você

toma cuidado com quem anda
antes imaginava um amor transcendente
sem escolta
hoje nem acredito em você.








domingo, 15 de janeiro de 2017

Regressão

a regressão pode ser o futuro

tudo em demasia se transforma em overdose

não faça coisas que para você é sem sentido

não fique parado, sua alma está sempre em movimento

em meio há tanto não, permita-se um sim

complicamos tudo, mas tudo tem um segredo

tudo é simples

sempre suas teorias se encaixarão aos fatos

caso contrário

mude as teorias e não os fatos


sábado, 14 de janeiro de 2017

Observação nº 2

Barulho de água
abrem-se as latas, cheiro de carne
não é verde, as nuvens brancas num céu cinza
refletem e se referem a um dia qualquer
mira os corações, tomamos nota
refeição da noite para simplesmente comemorar o presente momento de desgraça
sai e observa
as palavras sem rimas que viraram larvas
saudoso seja, aquele que roerá minhas frias carnes, literalmente
minhas carnes frias já estão completamente corroídas em cada verso
e quiçá nem completo esse
já que não me resta o resto da evidência
que comprova e não aprova todos os selfies
e desventuras em série de um amor incompleto

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Poema sem eira nem beira

estou sem beira, nem eira
e nem queira saber onde estou
melancolia pula no cérebro cinza
que entende em forma de lágrima 
ataque no miocárdio, apenas consequência
não morre ninguém, na verdade
pula o muro da caixa toráxica e caiu no chão da solidão
e vira poesia da mão que apenas escreve
"Queria"
mas a beira da eira já não quer queria
quer o amor insípido e todo completo
não existe verso tão certo, como a palavra incerta
viver o amor completo.
Espero, e quando o tempo acaba, vejo a completude
do amor: não existem limites.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Nuvens

     O vazio que sinto ao escrever essas palavras demonstra minha incredulidade e provavelmente minha não vontade em dizer. O porquê disso tudo? Simples o fato, quando se espera demais, morre demais. Era para ser por mais tempo, para conhecer melhor o coração, a alma, os traços em aquarela da vida do outro. Um erro, uma palavra, e acabou, eu não sou meu passado, porém a revisitou-me e perdi o presente.
     Sobreviver a rejeição presente é como observar as estrelas e não poder enxergar de perto por estarem a quilômetros de distância, é algo concreto. Sobre viver a rejeição passada não é um fato, não, é algo que nem passaria pela minha cabeça, se não me afogasse em mim.
     Lembro de algumas palavras ainda
     - Podemos, vamos
     - Não consigo, talvez a dor só seja bonita na poesia
     E então desisti. A rejeição, o não, o vazio, o silêncio, a solidão, até mesmo a falta de café, são instantes que acontecem com a gente, que acontecem comigo. E felizmente para vocês, quiçá tenha ocorrido sempre. 
    Vesti uma roupa, peguei um ônibus que viajaria mais de quatrocentos quilômetros. Durante a odisseia do homem comum, uma criança de cabelo loiro, aparentava uns cinco anos - acompanhado de uma mãe um tanto desinteressada - ficou gritando dentro daquela caixinha o percurso inteiro. A raiva subiu, não somente em mim, mas em todos, o que falar? Nada, a questão era uma só, esperar.
    Em meio a tanto barulho, houve um momento em que ocorreu a paz. Chovia na estrada, uma chuva forte e que depois transformou-se em bonança e olhei para a janela e percebi algo que nunca tinha visto, as nuvens nos imitam. 
   Parece meio boba a informação, mas é algo que transcende nossas capacidades. Do ônibus percebi como uma família se formava no céu, ou um crime acontecia, vi animais, sangue, árvores, floresta, deus, monstros do lago, e nisso tudo vi vazio. As nuvens nos imitam, pois são só, é um corpo só, num grande espaço que é o céu, e são permeadas pelo vácuo, a única forma de sentir que é algo, é imitando quem está sempre com elas, nós, humanos.
    Com o que sentia, desci no meu destino, e fiquei ali, observando as nuvens, vendo o quanto são parecidas comigo, sozinhas quase sempre.