domingo, 8 de janeiro de 2017

Nuvens

     O vazio que sinto ao escrever essas palavras demonstra minha incredulidade e provavelmente minha não vontade em dizer. O porquê disso tudo? Simples o fato, quando se espera demais, morre demais. Era para ser por mais tempo, para conhecer melhor o coração, a alma, os traços em aquarela da vida do outro. Um erro, uma palavra, e acabou, eu não sou meu passado, porém a revisitou-me e perdi o presente.
     Sobreviver a rejeição presente é como observar as estrelas e não poder enxergar de perto por estarem a quilômetros de distância, é algo concreto. Sobre viver a rejeição passada não é um fato, não, é algo que nem passaria pela minha cabeça, se não me afogasse em mim.
     Lembro de algumas palavras ainda
     - Podemos, vamos
     - Não consigo, talvez a dor só seja bonita na poesia
     E então desisti. A rejeição, o não, o vazio, o silêncio, a solidão, até mesmo a falta de café, são instantes que acontecem com a gente, que acontecem comigo. E felizmente para vocês, quiçá tenha ocorrido sempre. 
    Vesti uma roupa, peguei um ônibus que viajaria mais de quatrocentos quilômetros. Durante a odisseia do homem comum, uma criança de cabelo loiro, aparentava uns cinco anos - acompanhado de uma mãe um tanto desinteressada - ficou gritando dentro daquela caixinha o percurso inteiro. A raiva subiu, não somente em mim, mas em todos, o que falar? Nada, a questão era uma só, esperar.
    Em meio a tanto barulho, houve um momento em que ocorreu a paz. Chovia na estrada, uma chuva forte e que depois transformou-se em bonança e olhei para a janela e percebi algo que nunca tinha visto, as nuvens nos imitam. 
   Parece meio boba a informação, mas é algo que transcende nossas capacidades. Do ônibus percebi como uma família se formava no céu, ou um crime acontecia, vi animais, sangue, árvores, floresta, deus, monstros do lago, e nisso tudo vi vazio. As nuvens nos imitam, pois são só, é um corpo só, num grande espaço que é o céu, e são permeadas pelo vácuo, a única forma de sentir que é algo, é imitando quem está sempre com elas, nós, humanos.
    Com o que sentia, desci no meu destino, e fiquei ali, observando as nuvens, vendo o quanto são parecidas comigo, sozinhas quase sempre.
       

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