sábado, 12 de novembro de 2016

Tratado sobre a tristeza

O que é tristeza? É o fundo da alma, o plano do espírito, a quietude do tempo. Tristeza é o universo em andamento, a brisa do vento, a despedida, a dor, a ausência, aquilo que foi e não volta. Tristeza é a perca, a bondade, a maldade. Tristeza é a origem e o fim, o começo da oração e o silêncio da resposta, é o amor longe. Ah! Como sofremos de lonjuras! Tristeza é tudo o que falta, mas também transborda. Observe as estrelas, tantas, e mesmo assim há espaço entre elas. 
É apressado o jeito que se toma café e a calmaria que se degusta o chá, tristeza é isso, o amargo e o doce, a pressa e a calma. É caos, porém paz, é conforto e desconforto, ódio, raiva. Tristeza mata! Quiçá seja essa sua única beleza, matar almas e corações. Como mata? Com desamor, ausência, ignorância. 
Sempre existe a fuga. São esses pequenos momentos temporais que chamamos felicidade. De tudo o que é, é a mais rápida. Sempre passa. Felicidade é quando não há mais espaços entre dois corações ou mais, quando o choro vertido provém de uma risada, quando o beijo cala a saudade que grita na alma, quando há encontros. Tais momentos são efêmeros, como o vento leva a chuva e sempre voltamos ao mesmo estágio, na mesma certeza, na mesma essência, a tristeza de uma realidade vazia.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

podia

Podia ser flor, mas sou caos
podia morrer, mas me fiz de vida
podia ser estrela, mas sou pó
podia ser mais um pouco todo dia
mas não quero.

Podia e não podia
mas, não iria, escrever um dia
sem podia, sem iria
sem a incerteza da travessia

e por onde passaremos? pelo fio da navalha?
pela dificuldade de ser, pelo vermelho do sangue?
ou, o que haveria de esperar a não ser ausência?

Podia ser paz, mas sou guerra

Queria não poder, não queria mais o mas
bem que a espera não poderia trazer vazio.

Eu podia, mas a contradição não me deixa.