quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

t o r t a s l i n h a s

Principio e fim, morte e vida, contrários em mim, versados sobre papéis, canções formadas, mil e uma utilidades para palavras inventadas todos os dias em que a busca do sentido esvai-se no redemoinho de pedacinhos tão, tão dantescos que o “e se” perde sentido.

Sentido é o que alguém procura. Quiçá seja eu, ou você, que lê esse texto, ou mesmo, um ser que transcende a realidade. Mas, o que temos que deixar bem explanado é que o plano dessa existência é tão amorfo, quanto macrotransformado.

É tudo líquido, diz por aí nosso amigo Bauman. É tudo, sem sentido. Porque sentido vem de sentir que está indo para algum lugar, em que sentir é concordar com corações. É tanta discórdia, que meu coração não consegue se achegar a nenhum outro mais. Tentei fazer poesia para quem eu achava que amava e saiu versos meio tortos.

Trepida sobre o vento
seus cabelos enquanto meus olhos
percebem teus encantos

Bobagem de gente que ainda ingere sólido. Dizem que quem se deixa levar a vida é mais emocionante. É assim mesmo. Para que preocupar-se? Para que encontrar-se? Para que escrever e sentir. Deixa a vida fluir.

Esses filósofos deveriam ser todos tão, tão, tão, nem consigo explicar. Sentir é para os fortes, procurar propósito e entender que podemos seguir é a base de se moldar todos os dias.


Tudo muda, dizia Heráclito, e ele está certo. Somos feitos de renovo. Só não encontra o próprio eu quem não deseja remoldurar-se em sentido. E por fim, num ciclo, recaminhamos, na marcha dos que são descontroladamente perversos poéticos. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

trejeitos

são tantas emoções
que meu peito é como se fosse
um país do oriente
movido pelas moções
dos ventos que correm nos dias da primavera
das pessoas despidas em plena praça num verão

hoje, aqui, presente, está o tempo
o céu, a vida, as parcas estrelas
e uma lua que observa o desfazer do amor

e aí, se reconstrói, na base daquilo que não vejo
nos olhos que correm do meu para o seu
dos lábios que se desejam
o corpo que goza
no picadeiro do circo da vida

são tantas as saudades costuradas
cicatrizadas, são tantas
que me perco nos detalhes dos seus 
trejeitos
 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

esquecimentos sutis, lembranças anônimas

A tua beleza chegou num impasse
entre o passo e o tempo
do relance que nunca tinha visto

pena que quiçá, palavras minhas
não se tornarão palavras em sua boca

Será? a pergunta que faço
Será que olharás a mim?
e se sim, me refaço

Vejo-lhe a silhueta, devolve o olhar que eu não vejo
 No fim, eu, Proust e as madelaines
perdidos no tempo, esquecendo os detalhes

Porém, do outro lado do tempo
tua beleza desconhecida preenche
novamente o meu amor.
 

sábado, 9 de setembro de 2017

fissura

o que escrevo agora é a fissura
aquela que me abre no meio
e aquela que jorra do meu intrínseco ser
desonra, glória, luta

é como se o agora fosse tudo
e o depois mais tudo ainda
futuro, futuro, futuro, quiçá
lá, em outros séculos
colonizemos outros mundos

esquecem, ora pois, do
futuro pretérito, que ora acontece
ora aconteceu, ora acontecerá

é dessa fissura do momento
da memória, dos tempos
de Deus que me borro em verbos
tão, tão salientes

será? é a indagação do que inverso
deveria versar.

é a fissura dos tempos perdidos
De almas abatidas, amores sofridos
sem lembrança de que
o tempo é o médico dos desvalidos.

sábado, 26 de agosto de 2017

face a face

É noite de um dia que perdi as contas
 pensei em números, cafés, cantigas 
e só vinha na minha mente, desespero confusão, intrigas e mal ditas palavras
 café, papel em branco, tela em branco um azul aqui, outro ali, 
um desaponto de tempo aqui outro ali, tudo indo, nada vindo
 cada dia mais face, mas sem ver a face do outro
 água gelada rotulada: Fonte de Algum Lugar
 será de lá, a fonte da vida? poeira, espírito, sopro, de
caimento dimensional de hipopótamos machadianos temporais
 cortei a vida, e versifico os momentos de nada nada é nada,
 tudo é tudo e por assim, a vida se improvisa se visa o nosso bem,
 eu não sei mas como dizia minha 
vô cenoura faz bem pra vista!

segunda-feira, 19 de junho de 2017

numa fogueira de são joão

é, é, o mundo está encarcerado em desamor
enquanto afogo-me em incertezas
o beijo é perdido por entre chamas, labaredas
das festas de São João que não ocorrem
em noites amenas, mas frias
para que o coração aproxime-se do outro

é, é, aparece tanto desamor por aí
que nem sei mais o que é o amor, 
agora, no instante da partida,
no cume do vento, significa ir e não voltar

tropecei por sobre umas palavras
eram sorrisos, abraços, braços, poesia
mas não era para mim.
Acredito que o amor seja para todos
menos para o poeta.

domingo, 11 de junho de 2017

o dia em que o poeta parou de versar

O poeta decidiu parar de versar 
Foi num dia qualquer 
Num dia cinza de quaisquer 
Parecia brincar com as flores 
Mas, sem o bem, só o mal me quer 

 Ele cansou. Cansou de versar 
Sua alma estava sem combustível 
Não sabia mais como agir 
Ele tudo dava e quase nada recebia 
E se recebesse 
Era sempre o vazio 

Não que o poeta esperasse algo 
É que ele esperava ansiosamente 
Por alguém que transversasse o 
Que ele versava: "que amasse amor que tinha" 
Por isso decidiu parar de versar 
Pois versar é conversar é estar
E quando já não há motivos para esperançar, não tem porque
Legendar sentimentos em 
Estrofes 

O verso finda no ponto 
E o poeta se afunda no poço 
Daquilo que poderia ser algo 
E não foi.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

sem nome, mas no jardim


Eu preciso de um amor 
Um amor que me ame 
E ame o amor que eu tenho 

Não preciso de um amor de mensagens 
de ligações 
De formidáveis presentes 
Preciso de um amor presente 
Pode não ser todos os dias 
Nem todas as horas 
Mas um amor da qual 
O pensamento fique 
E quando há encontro 
Os beijos se traduzem 

Não preciso de um amor 
que venha de roma, 
Que brote do nada, 
Nem daqueles romances mirabolantes
Preciso de um amor que goste de ficar
Que brote poesia 
Que saia do chão 
E viva comigo todos os universos 
E escreva versos de vento 
Que faz eu perder o centro

Preciso, porque falta em mim 
Aquilo que eu transbordo 
Ausência.
Posso ser feliz comigo,
E sou, posso sorrir por aí sozinho 
E sorrio 
Só que sem a quem ter motivo
Do riso e da felicidade 
Sinto perdido em mim 

Preciso de um amor saudoso de mim mesmo 
Porque assim, posso ser completo em nós
Preciso ser dois 
Pois minha alma suplica
Por versos únicos.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Purê

Ela não descascou as batatas
mas colocou na panela
encheu até a metade de água,
esqueceu do sal
acendeu o fogo e esperou.

Ele, ligou a TV num dia de feriado
sentou no seu colchonete
que imitava um sofá e perdeu-se por uns minutos,
lembrou, foi lavar a louça.

Ela olhou atentamente a janela
as nuvens tinham movido-se pouco
calmamente viu a silhueta
calmamente lavando a louça
e calmamente houve um breve sorriso

Ele terminou a louça,
E chegou perto dela 
Trocaram olhares 
A panela apitou 
Estavam prontas as batatas 

Amassaram as batatas 
Colocaram manteiga 
Ovos, sal, fogo 
Ela mexeu a panela 
Ele observava 
Purê, pronto. 

Ela sorriu para ele 
Ele sorriu para ela 
Se abraçaram ali mesmo 
Era o instante da fuga 
E os dois brindaram 
O momento 
Na eternidade 
De um beijo 

O purê estava delicioso


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Poematráfico





sou traficante de poesia
e usuário de verso
cada linha que escrevo
é um novo universo

é respiração ação
resistência, diante de um mundo
que dilui em palavras
ódio, desamor, desistência

a cada tragada da pedra do caminho
tenho convulsões líricas machadianas
olho oblíquo, caneta irônica
bilhetes mnemônicos de Garcia

carne podre, e não é de demônios que falo
sim, de palavras pútridas dos Anjos
transcende a glória da luta, versos de Buarque
e procuramos verbete a verbete
significados no Holanda

injeto em mim verbo, meu olho fica vermelho de amor
proibido, vendido, lolita, Basílio,
Vicente, tanto Gogh como o Gil
metamorfoseio incongruências dentro de mim

sou caleidoscópio e maldição
honra, estupidez
acredito na poesia,
pois ela transforma
em ricas palavras
a miséria

é esperança, e remédio
é dor, felicidade, é espanto
poesia é versificar a vida
sem significação
é simplicidade de Quintana
dançando no meio da praça
com seu Sapato Florido

cheirei formas de linguagem
e corri com
vvvvvvvvvv
vvvvvvvvve
vvvvvvvvel
vvvvvvvelo
vvvvvveloc
vvvvveloci
vvvvelocid
vvvelocida
vvelocidad
velocidade
até não me alcançar mais

trafico, uso, retrafico, reuso
o verso, a polissemia,
a tuberculose, a doença
a taquicardia
uso a poesia como substância ilegal
para sair desse mundo de distopia


domingo, 14 de maio de 2017

antes de observar que o tempo diluiu escrevi estes versos


http://www.democrart.com.br/aboutart/wp-content/uploads/2015/03/Democrart_Salvador_Dali_Obra6.jpg


acordei, não abri os olhos.
passou uns minutos, abri os olhos.
olhos fecharam, abri o corpo.
corpo fechou, aí levantei.

lavei o rosto com os olhos fechados, o corpo aberto
e a mente toda inerte
fui a cozinha preparar café.

fervi alma, coei corações
e sorvi desgosto.

aí, já estava de olhos abertos, de corpo fechado
e a mente fluida.

percebi que não tinha aberto as janelas 
era escuro, espelho dos meus inversos
escancarei as janelas e entrou luz
e olhei o horizonte todo líquido,
colorido, e cheirando a merda.

fechei a janela, parei minha mente,
encostei o corpo, sorri. 

existia uma flor na beirada da pia
e ela não estava lá, existia
e agora, no plano da consciência não existe

só me restava sentar. sentei.
lembrei, ou tentei
puxar das linhas da ausência
o amor.

por fim, percebi, o tempo diluir
tudo o que é sólido
e perdi, o que mais me mantinha vivo
amar.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

roma

Ah! o mar, eu nunca o vi
já amar, molhei meus pés
e quase afoguei

são gotas, pingando,
café com leite
e pão na chapa
no meio da avenida paulista

parado, movimentado
como os segundos
correm, eu saio, luto
não quero amar

só que ele é como Roma
grandioso, o amor 
tenho que lutar no grande coliseu
e sempre, perco

como amar sem resposta?
não se sabe ainda,
apenas se ama
sem aposta

 

 

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Teologia da Improsperidade

Êxtase, clamor, mãos levantadas
gritos, o anjo está torto!
Passará Deus nas maquininhas?

Doem os corações
Tirem a bênção do bolso irmão 

Pode ser no boleto
a vista ou parcelado
mesmo que você não tenha
arranje, sacrifique
Ele está esperando

- Volte a pé para casa!
- Ele quer seu carro, você não tem fé?
- É miserável porque não ajuda na obra

- VAI! 
Dê e as demais coisas serão acrescentadas - disseram
Resultado? A gente já sabe
Pessoas delirando no vazio,
miseráveis de espírito e sem Deus

Ele não tem boleto, cor, amuleto
não quer dinheiro, casa, carro
não quer templos grandiosos
gritos miraculosos
espetáculos luminosos

O que Ele quer é coração, oração
confiança, certeza, inspiração
Ele não está guardado em paredes, eventos, cartazes
Ele está nos necessitados, na natureza,
nos inválidos, nos que são desgarrados

Está na música e não em código de barras
está nos poemas e não em revistas 
que o vendem como produto de primeira linha

Rendem-se a sua simplicidade
sinta ele no vento
no sorriso das pessoas
independente de cor, sexo, raça, religião

Apregoemos o amor dele ao mundo
gritemos e ajudemos os que necessitam
sem olhar a quem, sem excluir ninguém
sem vender ninguém

Apenas tirem os acentos do AMÉM

AMEM.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

atividade da criatura

Criatividade 
Atividade 
Da criatura 
Atura 
Atira 
Cria e atura 
Ata a doença 
A chaga 
Toma chá 
Com a tia 
Árida, seca 
De Áries?
 Talvez, quiçá 
Cabeça, crânio 
Plaqueta 
Estancou? 
Morreu? 
Não sei se viveu 
José, e agora ?
Poesia ou escola ?
- Poesia
Esclareceu ele 
Em tom de deboche 
Mas quem liga
Hj ta tudo muito caro
É caro, até escrever hoje 
Se economiza nas palavra 
Conversa 
Vira cvs, que se rearranjar 
Vira vcs 
Que doido não 
Essa atividade 
Da criatura
De criar

sábado, 6 de maio de 2017

girassol

Apaixonei-me pelos seus girassóis 
e encarno em outro corpo meus desejos
e eu não sou seu sol
embora queria ter sido

a dor de ver você indo embora pouco a pouco
é pouco para mim, que guardo no retrato
de um instante congelado, momentos de nossa sincronia

o incenso dá voz para o corpo, só não há corpo
nem incenso, apenas corpo e voz
do meu e do seu, que torna e entorna numa taça em nós

ata e desata, maltrata a alma, que espera 
e o relógio conta as horas, e ora, nem chega
a nenhuma ideia de amor

amar e amar, sem desandar a massa de nosso coração
é complicado e diversificado tanto
que só de ver versificando o mundo 
fico na dúvida se quero ser amado

sou apaixonado pelo seus girassóis
risos, fonéticas, enfim, todas as suas idiossincrasias
só que no fim, vai ser aquela coisa
cheguei, fiquei e parti

perdi seus girassóis

o furacão e a borboleta

Não sei quantas vidas me sobram 
e quanta metafísica há em mim
se é que existo ainda, 
se não sou um pedaço de vento

é clichê, clichê, e clichê
falar de tudo e de nada, de poesia, de ritmo
o coração bate e dessaruma a alma
floresce e cresce e por fim sempre morre
e morre
morre

ficamos a ver os navios, porém, o oceano secou
e a vida transformou em luz e a luz em estrelas
e as estrelas em galáxias transcendentes que fazem brotar
dimensões para uma subrealidade

não quero estar lá, 
e estou
não quero ser
e estou sendo
a realidade está de mãos dadas
e eu, de metáforas, e linhas
paralelas e planas não encontram-se no espaço
e desencontram-se no horizonte

é tudo um caos dentro de mim
e não reside paz, 
só que é de caos feita a vida
e de ordem é dada a morte

o mundo é borboleta
e eu o furacão
que não sabe para onde ir


 

 

domingo, 2 de abril de 2017

Eu queria que fosse

Eu queria que minha amnésia fosse de você
amor destemperado e efêmero

Eu queria que minha fome fosse de você
acalanto sem canto, amor desatencioso

Eu queria que eu fosse somente seu
carinho de muitos, e pouco de eu 

Eu queria que fosse a completude
seres incompletos, amor maldito

Eu queria, eu queria tanto querer você
amor, ou posso chamar de razão?

Eu queria que você fosse minha filosofia
amor desesperado e com fim.

domingo, 12 de março de 2017

decoro

Decoro palavras
sem decoro
e em coro, faço do silêncio
dos esquecidos
um grito!

Grito que emerge,
de um buraco profundo sem verbo
com vilania descarada
medo, antipatia, desmerecimento

o clima é de chuva
e a máscara é de ferro
não cai, mas machuca
talvez enferruje se o coração
for de lata, porque se for de carne
apodrece e não dilata

onde está o decoro poeta?
está no olho da transição intransponível da palavra surda
seja lá o que isso signifique
decoro é para quem tem ordem para a poesia
agora para quem vive dela
poesia é vida!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

lembro da luz entrando em diagonal no quarto escuro
éramos nós, bem desatados, que quiçá nem vão se atar
aproxima-se, mas não dá sintaxe
aconchega-se, mas não faz história
são momentos efêmeros,
pensando bem, qual momento já foi eterno?

lembro do cafuné 
e quando o abraço se completou
foram segundos de eternidade, aqui, 
quiçá a eternidade do momento
é tudo bem relapso no meio do colapso
uma gota no meio do oceano

é tudo caos
e tu é minha paz. 


Dedicado à Calanit

Poema sem sentido nº1

Parece que todos os poemas são a mesma coisa
o verso melancólico de um amor perdido
ou a denúncia de um ato
e na verdade, todos os poemas são sobre a mesma coisa

tem poemas sobre poemas
e poemas sobre pássaros
tem até mesmo poemas sobre mercados
e pessoas que vagam aleatoriamente por aí

tem poemas que nem são poemas
tem verso que nem versa direito, não dialoga, nem muito menos
é feito de poeta

tem estrofe que é abraço e verbo que é beijo
as vezes tem redondilha que evoca uma briga
que olha! nem queira estar perto quando acontecer 

algumas linhas são feitas de sobrelinhas
que entrelinham e formam anéis, que não são de saturno
mas ficam nos dedos, para representar poder

tem palavra que nem é palavra
e esse poema, é poema?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAA
AAAAAAA
AA
A
A
A
A
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAA
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaa
aaa
a
a
a
a
pode ser desespero, pode ser "a"
pode ser qualquer forma de grito
de silêncio, de desamor, de choro
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
eu sempre grito!

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

poema antes de lavar a louça

saudade dos tempos que nem sabia que levaria na conta
sabe daquele café despretensioso?
das atenções recebidas e ignoradas?
saudade dos risos daqueles que eu amei
de todos eles, sem exceção
até das brigas sinto a ausência desregrada
mesmo com os braços roxos e joelhos ralados
se os poetas vivessem de lembrar 
e se pudessem voltar atrás, viveriam mais
mas o tempo é traiçoeiro, e mata-os a sangue frio
e tudo o que resta é a saudade em forma de letra
saudade dos tempos esquecidos
das amantes, dos beijos aquecidos, das mãos pelo corpo
da língua espiralada e dos suspiros pecaminosos
em lugares e luares proibidos
saudade das estrelas em forma de nada
das noites com céu rosa
saudade
saudade
saudade
vai embora pelo ralo
é pedaço de fotografia que congela o tempo
é combustível de verso
é tristeza cantada
saudade
bate

forte
cabe a nós
sobreviver.

 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Hipocrisia da crise

Pensei que poderia imaginar um amor transcendente,
sem fins lucrativos, 
mas preferem investir ativos
e se desinteressar por aqueles que
pela sociedade são taxados passivos

um fim, 
e depois como se acendessem uma brasa
a conversa tem outro sentido, 
tu até pega um dicionário Aurélio e tenta entender
só que o que não falam para você dói muito mais 
do que as aparências que você acreditava

hipocrisia mata, não fique acusado
quem não foi hipócrita uma vez na vida,
por favor se mata. 
Decida: hipocrisia ou ser verdadeiro com aquele que tinha 
como único objetivo de vida, seu sorriso?

ter amizades é tomar cuidado, observa o contexto
antes de desenrolar os textos, senão, teu caráter
não tem nexo, e o que você achava que era seu eu
na verdade era o simulacro de você

toma cuidado com quem anda
antes imaginava um amor transcendente
sem escolta
hoje nem acredito em você.








domingo, 15 de janeiro de 2017

Regressão

a regressão pode ser o futuro

tudo em demasia se transforma em overdose

não faça coisas que para você é sem sentido

não fique parado, sua alma está sempre em movimento

em meio há tanto não, permita-se um sim

complicamos tudo, mas tudo tem um segredo

tudo é simples

sempre suas teorias se encaixarão aos fatos

caso contrário

mude as teorias e não os fatos


sábado, 14 de janeiro de 2017

Observação nº 2

Barulho de água
abrem-se as latas, cheiro de carne
não é verde, as nuvens brancas num céu cinza
refletem e se referem a um dia qualquer
mira os corações, tomamos nota
refeição da noite para simplesmente comemorar o presente momento de desgraça
sai e observa
as palavras sem rimas que viraram larvas
saudoso seja, aquele que roerá minhas frias carnes, literalmente
minhas carnes frias já estão completamente corroídas em cada verso
e quiçá nem completo esse
já que não me resta o resto da evidência
que comprova e não aprova todos os selfies
e desventuras em série de um amor incompleto

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Poema sem eira nem beira

estou sem beira, nem eira
e nem queira saber onde estou
melancolia pula no cérebro cinza
que entende em forma de lágrima 
ataque no miocárdio, apenas consequência
não morre ninguém, na verdade
pula o muro da caixa toráxica e caiu no chão da solidão
e vira poesia da mão que apenas escreve
"Queria"
mas a beira da eira já não quer queria
quer o amor insípido e todo completo
não existe verso tão certo, como a palavra incerta
viver o amor completo.
Espero, e quando o tempo acaba, vejo a completude
do amor: não existem limites.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Nuvens

     O vazio que sinto ao escrever essas palavras demonstra minha incredulidade e provavelmente minha não vontade em dizer. O porquê disso tudo? Simples o fato, quando se espera demais, morre demais. Era para ser por mais tempo, para conhecer melhor o coração, a alma, os traços em aquarela da vida do outro. Um erro, uma palavra, e acabou, eu não sou meu passado, porém a revisitou-me e perdi o presente.
     Sobreviver a rejeição presente é como observar as estrelas e não poder enxergar de perto por estarem a quilômetros de distância, é algo concreto. Sobre viver a rejeição passada não é um fato, não, é algo que nem passaria pela minha cabeça, se não me afogasse em mim.
     Lembro de algumas palavras ainda
     - Podemos, vamos
     - Não consigo, talvez a dor só seja bonita na poesia
     E então desisti. A rejeição, o não, o vazio, o silêncio, a solidão, até mesmo a falta de café, são instantes que acontecem com a gente, que acontecem comigo. E felizmente para vocês, quiçá tenha ocorrido sempre. 
    Vesti uma roupa, peguei um ônibus que viajaria mais de quatrocentos quilômetros. Durante a odisseia do homem comum, uma criança de cabelo loiro, aparentava uns cinco anos - acompanhado de uma mãe um tanto desinteressada - ficou gritando dentro daquela caixinha o percurso inteiro. A raiva subiu, não somente em mim, mas em todos, o que falar? Nada, a questão era uma só, esperar.
    Em meio a tanto barulho, houve um momento em que ocorreu a paz. Chovia na estrada, uma chuva forte e que depois transformou-se em bonança e olhei para a janela e percebi algo que nunca tinha visto, as nuvens nos imitam. 
   Parece meio boba a informação, mas é algo que transcende nossas capacidades. Do ônibus percebi como uma família se formava no céu, ou um crime acontecia, vi animais, sangue, árvores, floresta, deus, monstros do lago, e nisso tudo vi vazio. As nuvens nos imitam, pois são só, é um corpo só, num grande espaço que é o céu, e são permeadas pelo vácuo, a única forma de sentir que é algo, é imitando quem está sempre com elas, nós, humanos.
    Com o que sentia, desci no meu destino, e fiquei ali, observando as nuvens, vendo o quanto são parecidas comigo, sozinhas quase sempre.