sábado, 31 de dezembro de 2016

Fim.

O fim
m
i
f
de frente para trás
de trás para frente
não tem coisa ruim com ele
pois sempre chega
Mesmo que demore anos
mesmo que demore séculos
chega. 
ora para erguer a cabeça e dizer: vamos, de novo
ora para simplesmente acabar
e os transeuntes continuar suas vidas
e ter apenas o retrato como lembrança
fim não é só ponto, é vírgula também
é continuidade, é lembrança
é dos fins que se faz história.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Ode

Ode ao ódio que consome 
Aos pobres que não sabem 
Aos ricos esnobes 
Ao céu escuro 

Ode a fome, aos embriagados 
Ode ao teatro, ode a todos os sotaques 
Ode ao poema que não sabe o porque de ser escrito 

Ode ao poeta, ao fingidor 
Aquele que prefere as correntes 
De um doentio amor, as benesses 
Da liberdade 

Ode a tristeza, criadoras de mundo 
De universos paralelos entremeados 
De pedras no caminho 
Como Carlos Drummond de Andrade

Ode ao fim e a psiqué 
Que de psicodélico só os 
Políticos de uma terra inerte 

Ode as vírgulas aos pontos 
As proparoxítonas, e aquela 
Palavra grande que hoje faz tanto sentido
Inconstitucionalissimamente 

Ode as estrelas e a Camões 
A Guimarães e a Joyce 
Que nunca li, mas seu Ulisses 
O mais famoso 

Ode a tudo o que for ode
A tudo que for ódio 
A tudo que se perder 
Nas horas do relógio 

sábado, 12 de novembro de 2016

Tratado sobre a tristeza

O que é tristeza? É o fundo da alma, o plano do espírito, a quietude do tempo. Tristeza é o universo em andamento, a brisa do vento, a despedida, a dor, a ausência, aquilo que foi e não volta. Tristeza é a perca, a bondade, a maldade. Tristeza é a origem e o fim, o começo da oração e o silêncio da resposta, é o amor longe. Ah! Como sofremos de lonjuras! Tristeza é tudo o que falta, mas também transborda. Observe as estrelas, tantas, e mesmo assim há espaço entre elas. 
É apressado o jeito que se toma café e a calmaria que se degusta o chá, tristeza é isso, o amargo e o doce, a pressa e a calma. É caos, porém paz, é conforto e desconforto, ódio, raiva. Tristeza mata! Quiçá seja essa sua única beleza, matar almas e corações. Como mata? Com desamor, ausência, ignorância. 
Sempre existe a fuga. São esses pequenos momentos temporais que chamamos felicidade. De tudo o que é, é a mais rápida. Sempre passa. Felicidade é quando não há mais espaços entre dois corações ou mais, quando o choro vertido provém de uma risada, quando o beijo cala a saudade que grita na alma, quando há encontros. Tais momentos são efêmeros, como o vento leva a chuva e sempre voltamos ao mesmo estágio, na mesma certeza, na mesma essência, a tristeza de uma realidade vazia.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

podia

Podia ser flor, mas sou caos
podia morrer, mas me fiz de vida
podia ser estrela, mas sou pó
podia ser mais um pouco todo dia
mas não quero.

Podia e não podia
mas, não iria, escrever um dia
sem podia, sem iria
sem a incerteza da travessia

e por onde passaremos? pelo fio da navalha?
pela dificuldade de ser, pelo vermelho do sangue?
ou, o que haveria de esperar a não ser ausência?

Podia ser paz, mas sou guerra

Queria não poder, não queria mais o mas
bem que a espera não poderia trazer vazio.

Eu podia, mas a contradição não me deixa.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

breve história de uma estrela

Ó Filha de Artemis, abençoada pelas estrelas
jardim das belas palavras, história, poesia maravilhada, 
coração pulsante, entre as rosas vermelhas e brancas 
que esbanjava beleza em demasia, entre os campos verdejantes.

Entre o banto e o guarani, és o espírito que protege os rios
lá está o amor selado entre os horizontes perdidos
onde a natureza, humana e espiritual, se unem, nos vários sentidos
Sendo não mais dois, mas um.

Ó, espírito, da beleza, da compaixão, da guerra
dona dos corações perdidos na batalha, 
minha alma mais ama do que fere, 
enquanto entre as preces te procuro.

Mas onde estás filha da Lua? Quando não em guerra?
chorando as avessas ou escondidas?
não esquece de mim, devoto da lua,
amante de ti

Meu pranto escutaste e veio até mim,
transformaste meu lamento em hino de luta
elevou minha alma as estrelas até sermos um.

Não sou mais mortal no tempo físico que escorrega
sou transcendente, inimigo da matéria
amante da filha de Artemis que me guarda
dos insólitos pesadelos da guerra.

Lua e estrela, agora é eu e ela
contadores da enorme fortaleza do céu.


domingo, 23 de outubro de 2016

sem rumo em viagem ao desconhecido chamado diferente

É, esperei pelo diferente, e o diferente aconteceu, mas nem sempre isso acontece, porquê o acontecer não se mede, simplesmente acontece. Por sinal, é estranho por demais o diferente, entretanto, o normal também é estranho. É sobre um café em cima da mesa, um amor que um dia chega, uma carta recheada de saudades, isso tudo é normal, porém, para poucos, é diferente. A diferença depende da intensidade, das cores, dos aromas, das filosofias que interligam-se aos mais diversos assuntos, da sorte, sucesso, mas não demos voz ao acaso, ele se acha dono de tudo já! 
Esperei pela normalidade e findei.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Poema sem nome

o tempo é uma ilusão
e já não se vê mais os postes
as construções, e sempre 
estamos no meio do tudo
vivendo no vazio, 
e nem percebemos
o que passou

o espelho, mostra as rugas
os olhares gastos, a pele que outrora já foi outra
os beijos dados, as marcas de choro
os sorrisos vãos

os segundos não param, as horas
já se foram em orações a santidades perdidas
recuperar não é verbo do tempo
mas sim recriar 

a constituição da ilusão é a mesma de nós
o nada. A matéria do nada é o coração.
sofre, não diz, morre. 

a ilusão é de termos tempo.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Os mil temores de Patrícia

Patrícia tem medo, medo dos seus amores
na verdade, tem medo de sempre começar
e nunca acabar, como sempre. Acabar o que Patrícia?
O café, o chá, a refeição, o miojo, os amores

Sim, amores, Patrícia e os seus mil
tem problemas também, amar em demasia
faz com que perturbações grandes demais para alma
apareça. Cresce, vira um turbilhão de sentimentos, de choros, de palhaços tristes, de amontoados de poesias sem verbos, sem amor, sem vida, sem mistificação.
Pena de Patrícia. Que quer dizer, mas não consegue
ela tem medo.

Tem medo de chegar para aqueles amores tolos
e inacabados e dizer 
que acabou e que não deve nada a eles
mas ela tem medo de dizer.

Decide então escrever, mas o que escrever?
Ela tem medo de escrever. Sabe, que uma tristeza
que brota na alegria vai perdurar alguns intantes.
Então, desculpem o transtorno, mas Patrícia precisava
dizer sobre as primaveras
sobre os amores floridos de setembro
e mais de todo seu ciclo de estações

Patrícia chora. Tem medo de mostrar a alma 
e acabar aquilo que começou.
Segue um conselho Patrícia, não se doe a muitos amores.


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Idas e vidas

Sou feito de muitas idas
e de poucas vidas
cada instante é uma partida
sem outrora, sem caminho, sem história

Parto o abraço, o beijo de boca em boca
parto as alegrias, e a única coisa que carrego comigo é a tristeza

Par(t)i para o mundo 
e pertenço a ele agora, 
mesmo que levar peças faltando no ser doa

Não permanecer é temer
que as coisas não mudem
e por isso a ida dói menos
do que a vi(n)da.  

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O protetor do Rio

    
É no silêncio que nascem as histórias. Foi no grande Rio, o querido São Francisco que todas as nossas terras nasceram, das lágrimas e dos lamentos de Iati somos filhos abençoados. Nunca diga que seu sofrimento ou de sua tribo é em nível igual de Iati. Ela nos presenteou com vida, mesmo em sua dor, e das lágrimas que hoje formam o Velho Chico, nasce esperança, vontade, amor, e alimento para os desconsolados e saudosos.
   Como o choro de Iati e o silêncio dos corpos, o Rio é vivo. Permeia, conquista, encanta os homens para sua glória e desgraça, eleva as almas dos afogados até as estrelas, todas as noites, enquanto a Mãe d'Água senta nas pedras para pentear seus longos cabelos.
    O Rio, entretanto, perdeu seu protetor há muito tempo. O Rio é amor, mas os brancos o maltratam e até mesmo se esquecem que é do Velho Chico que emana toda força vital.
   Num tempo de intempéries, Domingos e Camila perfaziam os passos de Iati e seu amado guerreiro. Atendendo aos desejos de sua tribo trouxeram à tona a essência do Grande Rio, nisto, a Mãe d'Água se agradava e os deuses do Céu e da Terra confiaram de novo no homem, de que pode ser bom.
    Em todos os seus passos, Camila e Domingos exaltavam a beleza do Rio, e cada dia mais a Mãe d'Água se apaixonava por eles.


Naqueles dias o Rio ficava mais vivo, mais forte, mais desejoso, suas águas ficavam de outra cor, os peixes abundavam e sempre quando a meia noite o Rio dormia, Mãe d'Água elevava seu canto que acalentava a alma dos ribeirinhos.
  Em certo dia, na calada de uma noite morna, a Mãe d'Água e todos os seres amigos do Rio escolheram Domingos para ser seu novo protetor, tamanha coragem, força, vontade, fé, que transmitiria ao Rio quando nele estava, além disso, Domingos, segundo os seres do Rio tinha respeito ao silêncio das lágrimas de Iati.
   Camila e Domingos numa tarde escolhida por Quaraci (a deusa do Sol) decidiram mergulhar no Velho Chico. Suas águas estavam calmas e havia riso e alegria. Mas, é neste dia, escolhido pelo Grande Sol e com a benção do Rio, que Domingos seria destinado. Num certo momento, as águas mais profundas do Rio o prenderam, Camila ficou desesperada e tentou de todas as formas tirar seu amigo que estava imobilizado. Domingos sentia medo, mas as águas que o prendiam tentavam acalmá-lo. Camila gritava, e o bom guerreiro então entendeu.
  O Rio o incorporou, puxou para ele e sua alma desprendeu de sua casca e era agora filho de Mãe d'Água, parte do Rio. O Velho Chico criado pelas lágrimas de Iati agora se completa com as lágrimas de Camila, ambas dolorosas e puras.
  Desde então Domingos protege o Velho Chico das pessoas que maltratam suas águas, seus afluentes e seus seres, derruba embarcações e afunda pescadores de mal coração. Domingos morreu para transcender sua bondade e agora é recompensado com a sina de proteger o Rio São Francisco.
      

domingo, 18 de setembro de 2016

Intensidade

Dizem que os ventos escrevem um novo evangelho, e o amor espalha a esperança, dizem palavras que nada significam e dizem que tudo na verdade é nada. Os seus olhos grandes como planetas e tua pele macia como espuma, teus dedos finos como de músicos e tua beleza como de uma deusa. Eu sou apenas um observador da essência que transcende de ti. Sou uma pena que descreve versos enquanto minha alma caminha com a sua. Inverso nesse teu universo é que escrevo os versos da sua intensidade.
- Deixa eu me afogar em ti?
- Deixo.
Mergulhei como se não quisesse voltar a respirar. Mãos que clamam, a respiração ofegante apenas quando teu beijo me sufoca. A vela tremula a chama que agora está nos corpos. Só eu e você.
Parece meio clichê os dualismos criados, mas o amor que transpassa no toque singelo faz com que a monotonia se quebre. Tudo é clichê, e tudo deixa de ser clichê quando está subvertido na essência mútua.
Meus arranhões na sua pele são minhas linhas, teu corpo meus versos, seus olhares poesia, nosso encontro, mar salgado de Pessoa, teu amor alegria.
É, sejamos o nosso próprio evangelho.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Alegres tristes trapézios que riem

Trapézios Trapézios  Trapézios  Tristes       Trapézios Trapézios Trapézios Tristes       Trapézios  Trapézios  Trapézios Tristes
alegres      tristes        alegres      trapézios   alegres      alegres
alegres      tristes        alegres      trapézios   tristes       tristes
alegres      tristes        alegres      trapézios   alegres      tristes

                 Mil e uma utilidades,
                                mas                                                                                              vazios perante a
                               tristeza latente
                                           do corpo que                                                                                                         não sabe, 
                                                               se clama, 
                                                                       se chora
                                                                                     se ri.

domingo, 11 de setembro de 2016

Lágrimas medíocres de um poeta solitário

Chorei mais do que devia e não percebi que os detalhes é que davam vida as minhas esperanças. Chorei até não aguentar, até secar todo o tipo de substância aquosa do meu corpo. Verti em demasia minha alma e tentei até sorrir, mas a impossibilidade era latente. Por que chorava? Não sabia. 

É pressuposto o sofrimento, parece que é inato na gente, nosso plano de fundo. Poesia para os poetas medíocres que já não sabem o que escrever, e porque escrevem? Pela sobrevivência plena. Esse é o modo do poeta de aproveitar o dia, colher as angústias de um mundo de infortúnios. 

Chorei, então, pois percebi que não sou nada a não ser um nada, jogado na desesperança e atrelado ao peso de não ser ninguém. Chorei porque cansei de ser fundo, quero ser deserto. Ao invés de amor, quero regar minhas tristezas para que quiçá arvoresça esperança. 

Chorei então amiúde e sozinho, sem que ninguém entendesse o significado de mim. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Os mil amores de Patrícia

ela talvez sabia o que queria
ou o que queria era apenas não querer
mas Patrícia achava que se podia ter amor
onde quer que fosse
na rua, na esquina, até na padaria
com suas famigeradas moscas

Ela vivia de amores, dizia que não
até recusava flores, mas o coração dela sempre dizia mais alto
de todos os males o pior, seus beijos
eram flechas de paixão, perfura os mais escondidos desejos
e deixava ela num estado digamos
encantadinha

Patrícia vivia, cansada, mas cultivava seus mil amores
um para cada dia, um para cada vício, um para cada trago
porque o destino dela era permeado de estragos

ela, Patrícia, seus mil amores
fazia uma cena feliz
de querer o bem querer, de ser amores
de comer amora, de viver sem dor
apenas indo.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Gente

É uma hora acontece
a vida decide para a gente
perder quem a gente reconhece

E vem com cartão postal rasgado
e recadinho de nunca mais
e a gente olha meio sem saber
e a gente fica sem entender
porque assim, por causa disso, ou daquilo?
pôs fim e olha que nem é o fim do mundo

mas acontece, a gente tenta entender

entender é difícil, mas a gente tenta
saudade rasgada, coração passado no frio
e agora eu me entrego a outro alguém
e olha que você foi um outro também
mas agora não é mais nada
queria que fosse, mas não é mais nada

entreguei meus poemas que era de outro alguém
e ficou reservado a você, mas isso já não significa mais nada
pobre de mim que acreditei
pensei que mesmo sem o coração em mim
meus poemas podiam estar reservados
mas voltaram, e por fim voltaram e assim findaram

de você restam os personagens e a poesia
o silêncio, a nostalgia, porque saudade
já não existe mais. Acabou. Só sobrou eu. 

Pássaros do amanhã

Os pássaros me acordam todos os dias
chegam até a porta da minha casa
e adentram minha alma

Trazem consigo o canto doce
Melodia que acalma os espíritos e os demônios mais perturbados

as vezes, eles não se acalmam
e a melancolia vira poesia

tristeza alegria
alegria alergia
alergia amnésia
dos dias ruins

Outras vezes, os pássaros nem gostam de chegar em casa
apenas cantam, xingamentos e outros floreios do amanhã

sou obrigado então a permanecer neste mundo tenebroso
querendo quase em todos os outrora ter fugido para aniquilar o que não era vida


Assim, sou, um sim, ou um não
os pássaros são na verdade, nada
e eu sou mais algum.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Ventofonia

A lembrança daquele dia frio permeia meus sentidos
Foi de canto, para abafar o canto do coração
olhos arregalados, vergonha dos lábios
alma dormente, naquele dia, era preciso dizer
quer os versos não mentem

embrenhei nos meandros do medo
que ficava nas faces. Sorri. Sorriu.
Abraço daqueles que vira abrigo para nossas quimeras

o vento soprou num semitom 
não sei se de propósito ou foi para abafar 
a sinfonia dos batimentos

tudo se resolveu, ou quase
o beijo tímido dissolveu nossa lucidez
agora nos resta querer
o vento quer, o universo quer
meus poemas querem, meu verbo também
e você, bate a lembrança na porta
quer também?




sábado, 20 de agosto de 2016

Retratos da chuva

   O barulho avisa a todos, é chuva. Chuva limpa as calçadas, limpa as janelas, limpa os esgotos, a alma. Acordo com ele, despertador mais lindo não existe, a não ser quando são teus olhos que me despertam. Permaneço deitado, não tenho seus olhos, tenho dor. O ar frio que a chuva carrega consigo penetra o quarto vazio, eu sou um ponto na imensidão daquela escuridão.
  O celular vibra, uma mensagem, não é você, ignoro. Vibra de novo, não é você, ignoro. Permaneço alguns instantes de minutos esperando você. Mas você é como a chuva. Barulha, venta, mas vai embora, como tempestade. 
  É tão melancólico tudo isso, toda essa dor, toda essa fumaça de cigarro, isso porque nem fumo, todo este álcool que nunca bebi, toda essa poesia que nunca escrevi. A chuva lembra que a mímica dos corpos é não dizer, apenas sentir, ah, mas os corpos não sabem sentir, por isso não falam, não gritam. Fazem barulhos incompreensíveis.
   Levanto com dificuldade, rabisco na alma seu sorriso, coloco sua alma na minha estante. Sento no sofá observo todo o ambiente. Seu retrato não está mais sendo meu sol nos dias chuvosos.

domingo, 14 de agosto de 2016

Linhas avessas

  De repente veio a chuva, a água, os animais, veio os humanos, os pássaros, a terra. Depois as árvores floresceram. Surgiram então os sentimentos, o canto, o ar, o amor, a tristeza, a dor, a morte. De repente tudo acaba, toda vez, finda em um talvez que não cabe mais.
 Estou lá, usando o caos como meu norte, meu cais já não existe porque perdi tudo aquilo que se pode chamar de esperança. Pode parecer muito, mas também bem pouco, quando se leva o mundo nas costas se percebe tão pouco, a dor é insuportável ao ponto de nossa alma esvair e não ter forças para recompor-se.
 São línguas e línguas que falam, vozes que se alastram no vácuo do infinito. Reflito e percebo o quão ínfimo sou. O quão teria que ser. Tenho vontade de ser tudo a todo momento, e ímpeto de mudar tudo aquilo que vejo, não consigo, pois o que preciso não tenho, a chave do infinito.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Frio

O frio vem
e a gente se acostuma
as luzes da ribalta
e a névoa melancólica
trás a tona os erros que cometemos
chega um ponto que o frio não incomoda
mas faz parte da gente
torna-se nosso calor

Ventania...

Queria.
Seria.
Veria.
estudaria.
lavaria.
Estaria.
Ventania
sobre mim.
Aí virei do avesso.
Quero.
Sou.
Vejo.
Estudo.
lavo.
Estou!

sábado, 6 de agosto de 2016

Raizes

Olhem as raízes, perfuraram os asfaltos
o coração dos homens.
Olhem as raízes aquelas feitas de afeto, 
de consideração, de carinho.
Olhem as raízes e perceba a flor.

Onde está a empatia? de querer ajudar 
ou melhor de querer sentir o que outro sente
de amar pelo amar, da arte pela vida?

Onde está tudo? 
Olhem as raízes e tentem descobrir a resposta
Vão fundo, entrem em si mesmo, 
morem dentro de você
Só não deixem, abandonem, desafetem, descaminhem

Floresçam.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Abraços

O abraço perpetua tudo
que sentimos em silêncio
ele grita os sentimentos
afaga os batimentos

O abraço aquece, não só o corpo
e não é feito só de braços
tudo se entrelaça, os corações, os olhares
o corpo, até a alma

O abraço perpetua nossas estrelas
que já não tem mais luz
o abraço é abrigo

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Surdez

Escuto passos dentro de mim
são passos daquele amor que saiu
nem ao menos olhou para trás

Escuto choro dentro de mim
são lágrimas doces, doloridas
não contidas, de um amor sem café

Escuto e não enxergo grito
gritos de um amor mudo, que tentou ver
mas por desafeto, descaminhou

Já não há nada mais dentro de mim
há silêncio, melodia dos desa(l)mados.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Ser adulto

 Crescer é carregado de uma palavra: responsabilidade. E responsabilidade é a habilidade de ser responsável e o que é ser responsável? Levar coisas nas costas que não queremos, trabalhar com algo que não queremos. Crescer traz angústia. Ser adulto causa angústia. Não adianta igreja, não adianta dinheiro, seremos sempre crescidos e vazios.
 Como ser diferente? Sendo Peter Pan? Não. Mudamos quando crescemos, nos tornamos resilientes e principalmente ranzinzas. É inerente.
 Ser crescido é viver também de aparências, mesmo não querendo viver delas. Quem consegue vira artista, mas adulto e artista é mesmo para aqueles que não querem responsabilidade dizem os adultos frustrados por aí.
 Alguns decidem caminhar, outros andar de bicicleta, outros preferem continuar na caverna. Crescer era a palavra que não queria saber o que era, pois é triste. O que não é? O vento? A poesia? A canção? A harmonia? A dor? As perguntas? O que não é?
 Crescer causa medo. O medo é o futuro, porque passado já aconteceu e podemos contar as lamentações, mas aquele inesperado acontecer deixa o ser adulto amedrontado.
  Antes queria apenas poder atravessar a rua sem que meu pai ou minha mãe segurassem minha mão, hoje só queria poder escolher não atravessar, porém não posso, sou adulto e adultos andam sempre em frente e não chega a lugar nenhum.
    

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Vias

Café na xícara, no copo
alma nos corpos
dia aquecendo poesia
pessoas perambulando
entre as vias sem saída

amor pela culatra
céu ensolarado
noite enluarada
corações enlatados

quando acordar nesse novo dia
apague os olhos 
acenda poesia

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Toca o peito

Toca o peito e prediz. Arritmia. Rítmica. É alguma modalidade olímpica? Não. Então não diz. Reflexiva a alma, copiosa a mente, desnecessária a vida. Toca o peito e diz. É infarto. Farto da louça suja, dos copos vazios de álcool, farto estou de ficar aqui. Parou. O coração? Não, era infarto de alma. Não se pode dizer muita coisa, porque tem que reviver. Como? Com um beijo ou um pedaço de barata. barata? Não. Eu escrevi batata. Toca o peito e condiz. Sociedade. Poder. Podre. Temer. Nunca. Nunca Temer, isso deve estar sempre fora! Toca o peito e aceita. O desamor? O desaguar? O desalmado? Não, o fim da garrafa de vinho que me fazia esquecer de mim.

domingo, 17 de julho de 2016

Sempre azedos

São duas vias.
Duas vidas.
Alguns verbetes.
Muitos significados.

São dois copos de água
ardente e sem sal
Sem gelo, sem limão
apenas azedos.

Olho da janela o que Deus diz
É eterno tudo aquilo que fiz
Mas preferi o revés das marés.
As inúmeras heresias.

Escolhas. Estão sempre na sacola.
Vários copos, várias águas,
várias luas,
sempre 
azedos

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Cidade rafaélica

A cidade cala as almas
seus muros de concreto
seus rádios ligados
a alma em perfeito desafeto

os becos escuros
as ruas sem saída
os ambulantes sem vida

na cidade tudonada é permitido

O prefeito, o delegado
mendigo morrendo de frio
em plena madrugada

Cidade cruel, desumana 
será que concede aos seus moradores
segurança?

A poesia escapa dos cachimbos
acessos no meio da escuridão
na praça da Luz

Luz para todos é ilusão
o cachimbo que acende aqui
liga a alma na escuridão

Quadros, lagoas, cinemas
lançamento, livros, novelas
Imagina se a cidade fosse
tudo isso que se fala dela?

sábado, 9 de julho de 2016

Frioquentequentefrio

dentro é frio
lá fora é quente
dentro é quente
lá fora é frio
frioquentefrioquente
quentefrioquentefrio
cuidado ao por o casaco
cuidado ao tirá-lo
você pode esfriar ou esquentar
seu coração

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Diário de uma insônia

Noite 
Insônia 
Vira
Remexe 
Exemer
Mexemer
Acorda
Já é dia? Não
Já é noite? Não 
Sonha
Acorda
Sem sol 
Noite 
Insônia 
Não acaba 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Encaixe

Grito, saio de mim
Nos seus cachos eu me encaixo

Todos estão condicionados,
É tudo quadrado, tudo triangular
Tudo angular
Menos você

Silencio, volto a mim
É em sua alma que me embaraço

Querem ser lisos, duas dimensões
Padronizados
Menos você

Grito, saio, silencio entro
É em tudo que é você

Que me adentro.

sábado, 2 de julho de 2016

Augusto, os anjos do eu

  Sobrevivo de pequenos instantes e de coisas pequenas, sobrevivo porque viver é difícil. Quando Drummond escutou o conselho para ser gauche na vida, não tinha noção de como as coisas são, ou, se tinha algum traço impressionista, ele o ignorou. 
  Pior que sobreviver, é (ou são) as perguntas tão paradoxas que ocorrem em nós. Calma, respirem e pensem, porque escrevo somente sobre mim, o eu, sobre essas coisas? Porque conhecer a nossa individualidade podemos reconhecer nós, por isso Augusto dos Anjos publicou apenas um livro e o intitulou "EU", não porque era arrogante, mas pelo simples fato de todos os versos, sentimentos íntimos e desejos intrínsecos de vida e morte eram dele. Augusto sobrevivia, e eu também. Antes falar de todos esses meus conflitos, que criar um personagem apenas para servir a minha vontade, isso é demoníaco, no mínimo fascista, maquiavélico.
  Mas o que não é? O infinito é a peça para descobrirmos que todos somos microcosmos. Ser é pior ainda do que reverberar. Reverberar é marcar e caso não marcamos, não somos seres, somos algo que chegou, deu saudade, mas foi. O foi é questão de dor, e dor é morrer pouco a pouco com a distância, desgasta corações, explode estrelas, faz com que notas musicais morram, eu disse, é um puro sentimento de poder, conclui-se maquiavélico. 
  Queria as vezes que todas essas coisas, todos os verbos e enunciações morressem no limite do limite do limite, onde os olhos não alcançam, porque eu teria que de novo brincar de sobreviver.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Ônibusamante

Entrei, sentei, estendi os pés
liguei a música nos fones de ouvido
as luzes ainda estavam acesas 
as pessoas entravam, 
ao meu lado tinha vazio.

eis que se passaram alguns minutos
uma linda garota meio perdida
encontrou o número da poltrona
era ao meu lado

Assustei-me um pouco pois começamos a conversar
o ônibus partiu, e a fala permaneceu
as luzes se apagaram, porque era o último do dia
os olhos castanhos meus, que se encontravam com os olhos                                                                                {esverdeados dela
deram lugar ao escuro, confiávamos no som das palavras

a conversa chamou as mãos que se tocaram
a cabeça inclinou e se apoiou, as mão clamaram o pescoço
os lábios se encontraram timidamente.


Foi assim, um instante, de transeunte, para amante passageiro
no final, lá, após umas três horas, os lábios se encontraram                                                                                      {(novamente)

E o coração diz, agora não, melhor não, conheci você hoje e agora
concordei, afirmando, a vida é feita de instantes bem vividos.
O ônibus chegou ao seu destino final.

domingo, 26 de junho de 2016

Tantas Galáxias

   Tem vários tipos, e tem várias coisas, e vários alienígenas e várias outras milhares de galáxias, mas eu em quase todos os instantes da minha ligeira vida penso em você. Nossa, clichê de menino apaixonado, shakespeariano, muito provavelmente, mas pode ter certeza de que cada estrela que há no céu te guia, pois peço ao Universo que te proteja.
   Amar num mundo de tanta rapidez é como se afogar, não consigo compreender ainda como é possível tantos amores na mesma velocidade, tantos ritmos numa mesma música, tantos sentimentos numa frase só. Foi tudo em vão. E as coisas parecem assim, quando elas simplesmente vão, não sou feito de concreto, mas quando se trata de amor queria ser, pois ele permanece.
   Parece que tudo corre num erro abusivo, fico apenas observando, como dizia Quintana  moro dentro de mim, e fica difícil sair, ver o mundo, sentir. Acabou. Mesmo que eu peça as estrelas te protegerem, você se foi, eu, estou aqui, agora, chorando pequenas doses de lágrimas, subvertendo amor em não amor, comendo minha galáxia interior. 
   Dizem que tudo passa. Passar de amor em tristeza e dela alegria nem sempre é verdade. Mesmo sendo assim, forte, sofrido, vou pedir as estrelas para que te proteja. Só queria poder morrer uma última vez em seus braços.

sábado, 11 de junho de 2016

Sumiço

SUMI
e ninguém percebeu
foram se apagando as memórias
os sorrisos e os ventos

SAI
e ninguém percebeu
o canto faleceu, a poesia postergou
as fotos, desbotadas

SUMI
até que alguém percebeu
mas eu não estava mais lá
estava em outro lugar

UM DIA
perguntaram de mim
disseram: Ele sumiu

E, POR AÍ
ficava a remoer versos
de descontentamento com o anonimato

domingo, 29 de maio de 2016

Subversivo

Pensaram que iriam ser
pensaram em querer
pensaram em amar
pensaram
até que o pensar acabou

Sentiram que não iam comer
sentiram que não iam beber
sentiram que não iam viver
até que o sentido acabou

Sonharam que iam ser livres
sonharam que iam 
sonharam com amor
até que o sonho acabou

Tentaram, morderam, espernearam
Juraram aos céus e ao inferno
Mas tudo acabou

Morreu, subversivo infernal!

sábado, 28 de maio de 2016

Não alucinogéno

Parece que tudo o que eu conheço desaparece, as convicções mudam a cada dia, como se o café perdesse o sabor. Os sons são as únicas coisas que me envolvem. Buscam a inconsciência nas substâncias alucinogénas, no álcool, na fumaça de cheiro forte do cigarro. Os artistas, pelo menos os mais iminentes afloravam suas mais preciosas ideias após o consumo da inconsciência.
Já eu, sinto vazio desses alucinogénos.
Quando escrevo, sinto a alucinação vinda de um coração rosa, de uma mente doente, de um sentimento sem sentimento, de lágrimas de fogo. A própria vida e seus instantes piram mais do que qualquer droga. Preciso de drogas, claro, mas não para conseguir ser, mas para sobreviver aos percalços naturais.
Espirro.
Tosse.
Rouquidão.
 Vão falar, porque gostam de falar, que sou estranho, ou ao menos vão pensar, esse ser é de outro planeta, ou não falarão nada, porque não se tem o que falar. Prefiro uma inconsciência plena, musical, poética, que esfumaçada, psicodélica, desenfreada.
Ser tudo isso é tão macabro quanto maquiavélico.

Ser tudo isso é ser eu.

domingo, 15 de maio de 2016

Telhado

as horas vão indo, como as areias na ampulheta
escorre o relógio na beira da cama
eu continuo acordado, saio, fecho e abro a porta
tem estrelas? não tem estrelas?
maldita insônia!

por fim suspiro
tem estrelas, o vento está frio
entro de novo, ponho a blusa, esquento um café
e silêncio

.                                                                                                 .
.                                                                                                 .
.                                                                                                 .
.                                                                                                 .
.                                                                                                 .

ai escuto um gato, em cima do telhado
olhos amarelos, cor de sol
como é possível, se o céu ainda é cor de noite?

ele sorri, eu choro, termino o café
tento deslumbrar algumas palavras
o vento frio volta
uma folha começa a cair

silêncio novamente
mas agora, dentro de mim


domingo, 8 de maio de 2016

Normalidade

  A normalidade nos faz perder a coragem. Quando algo é sempre, tende a cair no fim, isso, infelizmente, passo, e a passagem é algo importante, remete a um novo começo, ou a uma nostalgia eterna, e aqui, neste ponto, o sempre não cai no fim, ele se renova, na alma, faz sofrer.
  A normalidade causa medo e medo causa dor. Ter prazer, ser feliz está além, além de tudo, já tentou imaginar um mundo infeliz? Tudo seria cinza, as pessoas padronizadas, não haveria riso, cairia na normalidade. Já por outro lado, uma cidade feliz seria de cores, as pessoas se vestiriam de vermelho, amarelo, os padrões seriam aniquilados, existiria sempre o riso, a felicidade.
  Portanto, tudo que é dito nem sempre é a verdade, felicidade é indefinida, a tristeza tem ar de felicidade, e a felicidade um ar de tristeza, quem nunca se sentiu sozinho no meio de uma multidão e acompanhado sozinho? A questão da felicidade está no simples ato de ser, ser quem você quiser ser. 

terça-feira, 3 de maio de 2016

São ao vento

Os tempos estão cada vez mais caminhando para o reverso, sim, estão estáticos, parados, na verdade, movendo-se pouco a pouco, o que restou de nós fica preso, remoendo, dentro de mim, dentro do que eu sinto. Parece clichê de escritor de meia boca, entretanto, é fato dizer que os dias estão cinza, o sol não brilha com a mesma intensidade, lembro recentemente de quando ainda podíamos compartilhar o mesmo sorriso e a mesma alegria, os mesmos trejeitos, os mesmos desejos, o calor era irradiante, sempre nos enlaçava e nos colocava para dormir, mesmo que você não gostasse de sol, aí, como era os dias, rápidos, tranquilos, aromáticos, e agora anda, sempre indo para trás, indo cada vez mais para trás, retornando como se não tivesse fim.
É lamentável, a situação da qual estou, digo de mim, pois meu coração não é de ferro, mas de carne e como Saramago delineou, por ser assim ele sangra todos os dias, sangra por falta de vontade, sangra por falta de esperança, sangra por falta, sofremos porque a ausência é mais forte que a presença, e o choro mais forte que o consolo. Consolar é tentar acalmar um tumulto de pássaros selvagens e amar é ser tudo e ser nada ao mesmo tempo, em todo momento, em cada seguimento, em todas as sentenças. Quando se delimita e se põe fim a uma história, se põe fim a um amor, e todas as vezes que cogitamos amor, cogitamos o profano, o amor sagrado existe, quando há reciprocidade, da vida com o individuo, do individuo com seu reflexo e do individuo com outro individuo.
É parte inseparável da matéria a disciplina de tentar, mesmo que falhando descobrir ou melhor significar o ato de interesses contraditórios, o que é amar. Passei, passo, por essas entrelinhas e meu passo diminui, o ato do tempo voltar é o ato de fazer regredir os sentimentos, quando se ama, se reverbera e quando acaba, o eco permanece, tilintando nos ouvidos, nos olhos, no corpo, no coração e na alma.
Esses que dizem, que berram o que é amar, desconhecem-no, eu o desconheço, e o próprio amor se desconhece, saber amar é viver quase como uma eternidade encontrando uma identidade para essa palavra. Profundissimamente e cada vez mais, calado e cada vez mais, soturno e cada vez mais, as esperanças de quem já conheceu essa falta de identidade, sabe, que pouco a pouco se perde a sanidade, aquela, em que se há razão, e começa-se a viver numa realidade alternativa de termos subjetivos, de vidas dissolvidas.
O que ficou preso era nós, não se liberta mais, escrevi maravilhas e ficaram presas nas prateleiras, nos livros de capa de couro, nas linhas e agora não existe nós, acabou, findou e agora, essas palavras são ao vento.

sábado, 30 de abril de 2016

Perda

Acostumar a perder
não é fácil
lágrima rola, coração rola,
você permanece entorpecido
livro aberto, livro fechado
tempestade
não vai acabar até se acostumar
a perder, a ter o barco virado,
a ser sem as coisas

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O que é amor?

     O que é vida? O que é amor? Porque essas duas palavras, essas indagações não possuem respostas? Porque elas são de todo modo reperguntadas e nunca definidas? Porque elas são? Porque existem? Tais perguntas vocês não verão numa noite no Globo Repórter, muito menos numa coluna de jornal, essas perguntas das quais a definição pressupõe um vácuo eterno, serão respondidas sempre, mas sempre, mas sempre, com a ressalva de não se saber.
  Porque fazer tais perguntas? Porque o frio é bom, o frio nos aproxima da morte e da vida ao mesmo tempo. Andar no frio é como estar numa geladeira natural, seu corpo se enrijece, seus olhos ficam nevados, entretanto ao chegar em casa vocês, sim, vocês que estão lendo, revivem como fênix no chuveiro que expele uma água em filete, na qual a temperatura de tão alta é medida em Kelvin e passa do suportável, desse banho nós nos aproximamos da vida.         
    Mas onde está o amor? Ele se foi pelo ralo, mudou-se, não quis voltar, congelou porque seu pensamento se restringia ao ato de se esquentar e não de amar, porém, o que é amar? Isso é conversa para outro documentário de tv e não para essas palavras, você quer amor, seja amor da forma como acredita, se quer saber o que é vida, sê vida da forma que você acredita. Mesmo sendo uma resposta até que óbvia, a pergunta nunca acaba, mas o que é acreditar?

Eduardo M

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ovelhas

Impediu
Apitou
Só que o cartão vermelho lembrou
Quem apontou é corrupto também
Mas o que importa?
A lei está nas mãos de quem dá as cartas
E quem deu o cartão
Não terá só uma cor rubra no papel
Mas o carmesim do sangue
De quem deu a vida
a favor das ovelhas.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Inconsistência

   Inconsistente o mundo é, já reparou para ver? Nem toda a metafísica consegue explicar essa inconsistência, a vida é apenas um borrão na dita essência da existência. Consistência só se for em massa de bolo. Olhe pela janela, observe o vidro, observe a inconsistência das pessoas, uma hora ri, doutra chora e na outra quer salvar as baleias. As baleias precisam realmente de salvação, elas são consistentes, tem peso, tem objetivo, só não podem morrer, elas são as guardiãs da consistência.
     A ciência é outra essência da inconsistência, não sabe se café faz bem ou mal, não sabe se dormir em excesso é bom - puf! mas óbvio que é, cientistas mal amados - tão inconsistentes que dá vontade de gritar: Chega! Vai tomar seu café, vai ler um livro, vai comer um chocolate e chega de inconsistência!
     A inconsistência é fato, mas poderia ser flato, não posso declarar fim a ela, pois a inconsistência está neste texto, está no pensamento, está no amor, se não formos inconsistentes, não somos humanos.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Tristeza e paradoxo

A alegria é um vazio de alma
a tristeza recheio da alma

a tristeza corrói os rostos
corrói a face, como preconceito

a alegria permanece, quem alegre é
alienado também é,
quem muito sorri, pouco sabe da realidade

pensar na metafísica de não fazer nada
na potencialidade de ser
não alegra-nos, mas somente assim
chegamos na essência do ser

se faça triste e seja alegre
seja alegre para se ver triste.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Inconsciência

Procurou e não encontrou
O corpo doído, a alma doída
a garganta doendo

o despertar de agora é 
do sonho de inconsciência
é retrato de gestos de impaciência

quis esquecer de tudo e bebeu
como um condenado no inferno
bebeu e bebeu, agiu, orgiu, viveu
inconscientemente

pois é considerável hoje a inconsciência
para viver a realidade
mas de louca já basta a realidade
até que ponto usamos nossa consciência como realidade
e nossa realidade como sonho? 

domingo, 10 de abril de 2016

Remelas

   Acordei. Estava minha alma toda dormida ainda, cheia de remelas, cheia de preguiça. O corpo acordou. O espírito não. Sei que esse cansaço almático é devido as andanças do meu espírito, foi até a China, depois brincou com alguns animais da floresta e até fez uma fogueira para esquentar-se, daí, percebeu-se que devia voltar.
   Segundo Hesse, esse espírito é lobo, segundo eu, esse espírito é aventureiro. Todos querem sangue, todos querem gritar, como um lobo aprisionado, repete Hesse, mas eu repito, que o grito, que o sangue faz parte da aventura.
    A comédia faz parte da humanidade, mas o sorriso é divino, figura entre todas as coisas. Versejar é cantar a vida com alegria. Permiti ao meu corpo deitar mais um pouco. Era dia de fazer nada. Era domingo. Temos a nomenclatura de dias úteis, então que façamos inúteis os dias ditos corridos. 
     Então levantei-me, sacudi-me, tenta retirar aquela dor nas costas causada por um colchão de fina espuma e que por causa do meu peso afundara e passar muito tempo na cama era como deitar as costas num pedaço de pau. Triste, mas finalizada a dor, segui com os costumes desnecessários que nós, seres humanos sempre fazemos.
    Não é angustiante isso? Esse refazer de coisas? Essa repetição? Victor Hugo que o diga, ao escrever seu condenado numa antessala da libertação, a prisão é monótona, mas não somente a prisão física, de corpo, de concreto, mas a prisão da rotina. Não saia por aí fazendo coisas desnecessárias, sai por aí significando os dias.
    Certo, mas como faze-las significar? Simples, observe ao seu redor. Aquele dia, um dia tão comum mudou, quando vi que o sol era a luz das folhas e as folhas minha proteção:

  
    Deleite-me por um tempo perante a imagem, realmente te convido a entrar na foto, perceba as folhas, perceba o ar que estava naquela manhã, o sol como eu, estava permitindo-se acordar lentamente, primeiro brilhou, depois veio os primeiros raios para no fim - não que isso importe agora - mas para que no fim do dia, secasse todas as roupas dos varais e fizesse suar todas as pessoas e claro, ser xingado por realizar isso. O sol é incompreendido.
       Mas, me deparei com outra imagem e percebi que a natureza é completamente complexa, vi troncos, vi o quão fundo poderiam ir, e o quão raso eu poderia ser. As raízes vão fundo, como as artérias de nosso coração, as raízes bombeiam verdades para dentro e fora dos troncos, um coletivo de troncos é um coletivo de verdades que não se pode ir contra, a natureza é totalmente dogmática. Nunca veremos em um livro, em palavras essa enorme variedade de significações naturais.
      
Queria ser livre, então me permiti acordar tarde, a natureza se permitiu e criou nós. Seja livre, mas deixe que a natureza te liberte também.

sábado, 9 de abril de 2016

Táculos

     Obstáculos.  Sim, ela tem tentáculos, pega você aqui, pega você ali, te puxa para fora e não te deixa sair. Tentáculos. Sim, há obstáculos, mais do que isso, quem tenta, tenta se livrar de toda prisão, tenta se livrar de todo cálculo que te acomete.
    Quando se quer, você não pode ter, maldito ditado que diz que não podemos ter tudo o que queremos. Sofrer não é escolha como dizem por aí. Sofrer é se impor perante ele, aceitar sua carga, suas consciências, sofrer é pressupostamente uma escolha subjetiva da mente e não mecanicamente. Escrever é sofrer. Andar é singrar as ruas.
     Obstáculos são vários, tentáculos puxando para o abismo pior ainda, cada táculo é um tipo de sofrer que aceitamos e seguimos em frente. O obstáculo da cor, da classe, do cabelo crespo, da barba, de ser gay, o obstáculo de ser comunista, capitalista, de se cantar rap, samba, o obstáculo de ser. Nenhum desses táculos podem vencer-nos. Pressupostamente, cada sofrer mental, cria em nós um resistência vital. Não cederemos, venceremos, e traremos a mensagem de que somos todos iguais.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Unir-se

Unir.
Palavra de ordem, palavra de sedição, palavra interesseira, unir até que seus propósitos sejam alcançados. Para que continuar unido depois que tudo for resolvido?
União faz a força, faz açúcar, mas a união antes de tudo faz cumprir os interesses. Desde que esses interesses não sejam egoístas, nada contra a união. Mas a União é corrupta. Sempre se separa. Se você já pensou que sempre os movimentos não permanecem unidos, porque você entendeu que, o interesse é que ficou unido.
Já imaginou como seria genial seocunhaeotemernãoestivessemunidosporinteressesenemfosseminvestigadosdecasosdecorrupção provavelmente essa frase não seria grudada assim, sabe porque? Para você entender. Mas se você entendesse, você não ficaria unido a eles. Ficaria unido a outros interesses.
E assim, toda a cadeia social se constrói. A união é linda, auspiciosa, a União também é doce, todavia a União é corruptora de boas práticas. 
Humanos, nunca deixem de se unir, só não transformem em união um estudo de caso com o título: Como chegar ao meu interesse?  

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Fatos e fotos

Perdi as fotos e perdi os fatos, perdi as linhas e perdi também tudo aquilo que traz plenitude. Viver separado é viver morrendo, mas separado do que? Separado de tudo aquilo que é considerado vida. Amor, diário, comida, sensação de não ser desespero.
Porque quero escrever refrigério? Porque minha alma não cabe em um copo de inconsciência coletiva, viver morrendo é a sensação de ser lobo de estepe, estar trancado dentro de si mesmo é estar trancado dentro da caverna. Ah, se Platão soubesse que não é tão fácil assim quebrar as correntes e ver as sombras de realidade, ele não escreveria o mito da caverna, mas sim o Mito do Comodismo das Algemas.
As palavras, elas são profundas, são figuras da oralidade, já pensou que tudo o que se lê e até mesmo essas orações podem ser desenhos de uma criança de um outro universo?
Como perdi os fatos, também perdi a história, a história dos gritos, das coisas relevantes. As palavras destroem verdades incontestáveis.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Diálogo

Alô. Alô 
Alô, Zé Seu
Ei, aprendi que para falar preciso de travessão, para perguntar preciso de guarda chuva. Entendeu?
Ah, não compreendi, sabia que Seu Zé morreu, na esquina da facul?
Quem disse isso?  
Foi Tinhoso, o menino da D. Amália
Ah fio, minhas tristezas
Como tá Zé Seu?
Bem, mas fio, por onde aprende essas palavra de facul?
A gente aprende com o povo que vem comprar crédito. 
Que crédito? Tu virou agiota?
É crédito de celular, oxente  
Tendi fio.
Mas Zé Seu para que tu falou de travessão e guarda chuva, não entendi nada.
O meu fio, aprendi lá na escola, com a fessora, disse bonitin para a gente
Tendi, Zé Seu, preciso ir
Não esquece do ponto final, adeus fio.
Pi pi pi pi

domingo, 3 de abril de 2016

É

É.
Tentava procurar nas folhas digitais uma nova história, não consegui, então decidi escrever essas linhas.
É
O coração está apertado porque já não consegue ver mais saída, tudo muito escuro, tudo muito sombrio.
É 
Distância destrói laços
É.

sábado, 2 de abril de 2016

Kafkas

Quando Kafka não era Kafka, todo seu espírito era barata, toda noite escondida. Falaremos de tudo o quanto for desnecessário. Desnecessário é a verdade em forma verde. Porque não vermelho? Porque a Natureza é verde assim como Kafka.