sábado, 2 de julho de 2016

Augusto, os anjos do eu

  Sobrevivo de pequenos instantes e de coisas pequenas, sobrevivo porque viver é difícil. Quando Drummond escutou o conselho para ser gauche na vida, não tinha noção de como as coisas são, ou, se tinha algum traço impressionista, ele o ignorou. 
  Pior que sobreviver, é (ou são) as perguntas tão paradoxas que ocorrem em nós. Calma, respirem e pensem, porque escrevo somente sobre mim, o eu, sobre essas coisas? Porque conhecer a nossa individualidade podemos reconhecer nós, por isso Augusto dos Anjos publicou apenas um livro e o intitulou "EU", não porque era arrogante, mas pelo simples fato de todos os versos, sentimentos íntimos e desejos intrínsecos de vida e morte eram dele. Augusto sobrevivia, e eu também. Antes falar de todos esses meus conflitos, que criar um personagem apenas para servir a minha vontade, isso é demoníaco, no mínimo fascista, maquiavélico.
  Mas o que não é? O infinito é a peça para descobrirmos que todos somos microcosmos. Ser é pior ainda do que reverberar. Reverberar é marcar e caso não marcamos, não somos seres, somos algo que chegou, deu saudade, mas foi. O foi é questão de dor, e dor é morrer pouco a pouco com a distância, desgasta corações, explode estrelas, faz com que notas musicais morram, eu disse, é um puro sentimento de poder, conclui-se maquiavélico. 
  Queria as vezes que todas essas coisas, todos os verbos e enunciações morressem no limite do limite do limite, onde os olhos não alcançam, porque eu teria que de novo brincar de sobreviver.

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