domingo, 10 de abril de 2016

Remelas

   Acordei. Estava minha alma toda dormida ainda, cheia de remelas, cheia de preguiça. O corpo acordou. O espírito não. Sei que esse cansaço almático é devido as andanças do meu espírito, foi até a China, depois brincou com alguns animais da floresta e até fez uma fogueira para esquentar-se, daí, percebeu-se que devia voltar.
   Segundo Hesse, esse espírito é lobo, segundo eu, esse espírito é aventureiro. Todos querem sangue, todos querem gritar, como um lobo aprisionado, repete Hesse, mas eu repito, que o grito, que o sangue faz parte da aventura.
    A comédia faz parte da humanidade, mas o sorriso é divino, figura entre todas as coisas. Versejar é cantar a vida com alegria. Permiti ao meu corpo deitar mais um pouco. Era dia de fazer nada. Era domingo. Temos a nomenclatura de dias úteis, então que façamos inúteis os dias ditos corridos. 
     Então levantei-me, sacudi-me, tenta retirar aquela dor nas costas causada por um colchão de fina espuma e que por causa do meu peso afundara e passar muito tempo na cama era como deitar as costas num pedaço de pau. Triste, mas finalizada a dor, segui com os costumes desnecessários que nós, seres humanos sempre fazemos.
    Não é angustiante isso? Esse refazer de coisas? Essa repetição? Victor Hugo que o diga, ao escrever seu condenado numa antessala da libertação, a prisão é monótona, mas não somente a prisão física, de corpo, de concreto, mas a prisão da rotina. Não saia por aí fazendo coisas desnecessárias, sai por aí significando os dias.
    Certo, mas como faze-las significar? Simples, observe ao seu redor. Aquele dia, um dia tão comum mudou, quando vi que o sol era a luz das folhas e as folhas minha proteção:

  
    Deleite-me por um tempo perante a imagem, realmente te convido a entrar na foto, perceba as folhas, perceba o ar que estava naquela manhã, o sol como eu, estava permitindo-se acordar lentamente, primeiro brilhou, depois veio os primeiros raios para no fim - não que isso importe agora - mas para que no fim do dia, secasse todas as roupas dos varais e fizesse suar todas as pessoas e claro, ser xingado por realizar isso. O sol é incompreendido.
       Mas, me deparei com outra imagem e percebi que a natureza é completamente complexa, vi troncos, vi o quão fundo poderiam ir, e o quão raso eu poderia ser. As raízes vão fundo, como as artérias de nosso coração, as raízes bombeiam verdades para dentro e fora dos troncos, um coletivo de troncos é um coletivo de verdades que não se pode ir contra, a natureza é totalmente dogmática. Nunca veremos em um livro, em palavras essa enorme variedade de significações naturais.
      
Queria ser livre, então me permiti acordar tarde, a natureza se permitiu e criou nós. Seja livre, mas deixe que a natureza te liberte também.

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